quarta-feira, 2 de maio de 2012

Roger Waters derruba o Muro em Porto Alegre

Com algum atraso, mais relacionado à preguiça e à falta de criatividade deste que vos escreve, mas também algumas dificuldades para passar arquivos do celular para o computador, eis um post que aguardei plácidamente para escrever quando pudesse deixá-lo, mesmo que apenas levemente, à altura do evento que Porto Alegre recebeu em fins de Março deste ano.

Quando falamos em Rock Progressivo, eles foram referência, e por conta das letras e composições criativas e inovadoras, influenciaram praticamente todas as bandas de rock que os sucederam. Confesso que não sabia exatamente o que esperar, pois o show prometia ser teatral, um grande espetáculo, além de ser a "encenação" de um álbum apenas, ficando de fora uma série de outros sucessos da banda. O motivo é simples, talvez The Wall seja a magnum opus da banda (a concorrência de The Dark Side of The Moon é forte, mas ao menos The Wall encerra a brilhante seqüência de quatro brilhantes álbuns, complementada por Wish You Were Here e Animals), pelo menos no que diz respeito ao intrincado trabalho que exigiu de Waters, e nas adaptações para Teatro e Cinema. Tudo isso torna um show desses diferente de um show tradicional, onde a normalidade é ouvir os principais hits do músico, mas as principais canções do último álbum e deu...

Agraciado por um destes acasos do destino, amealhei dois ingressos de uma colega de trabalho, que sequer conhecia o cidadão, pela metade do preço, e ainda consegui vender um com ágio, no dia do show.


Já estava preparado para enfrenta a boa e velha 116, quando meio que de última hora consegui vaga navan organizada pelo meu padrinho, Júlio, e de quebra, consegui uma vaga pro Fernando, grande colega de Monday Night Poker Club. Obviamente fui "armado", Isopor, Gelo, e dois engradados de Heineken. Chegamos nas redondezas do Estádio Beira-Rio por volta de algo como 17hs e com o sol nos recepcionado calorosamente. E a movimentação era bastante grande, especialmente nos botecos e banheiros que circundam o estádio. A curiosidade fica por conta do expressivo número de catarinas vindos do estado vizinho para o Show.

Entorno do Beira Rio tomado.

Nesse momento as filas já estavam tímidamente formadas. No setor de Pista Premium, simplesmente não havia fila. Era chegar e entrar (claro, no horário de abertura dos portões). Já a fila dos pobres mortais da Pista era um desastre. Algo que deveria ao menos gerar uma preocupação num país que vai sediar a Copa do Mundo. A fila fazia exatas três pernas. Ia da entrada, passando pelo Gigantinho e indo mais uns 200m adiante, depois retornava à altura da entrada, e a última perna passando adiante do Gigantinho mais uma vez. A confusão era geral. Eis que "~le wild Igor appears", hehe... Seguramente, eu e o Fernando queimamos uns 500m de fila, ao ficarmos com Igor e sua turma, mas a situação ainda era crítica. Os portões estavam abertos há certo tempo e a fila mal se movia, e como havia uma confusão com as filas, a preocupação era grande. Foi aí que entrou em ação o espírito selvagem, aventureiro e cara de pau deste humilde e modesto blogueiro. Estávamos ainda na "terceira perna" da fila, e isso não me agradava. Fiz de conta que não era comigo, e me infiltrei no segundo segmento da fila, disfarcei, esperei uns minutos e chamei todo mundo pra lá, hehe... Lika a Boss.

Quando entramos, o sol já estavanos deixando, muita gente transitava pelo gramado, decidi que era hora de pegar os melhores lugares possíveis, e acho que conseguimos. Pegamos as arquibancadas do lado oposto ao show, escapamos às duas torres dos projetores, pegando o palco bem de frente, e apesar da distância pudemos ter uma visão privilegiada do show.

Multidão transita pelo gramado.

Local privilegiado, com vista frontal e próximo dos banheiros.
Grandes companhias, Igor Gentil e Fernando Grahl.
O Álbum

The Wall é um álbum conceitual de Rock Progressivo, no estilo clássico de Pink Floyd. Essa Opera Rock conta a história de Pink, um roqueiro cujo pai foi morto em combate na Segunda Guerra, atormentado na infância pela humilhação à que era submetido por escrever poemas e músicas, gerando um sentimento de rebeldia contra o "sistema". Pink cresce e torna-se um astro do rock,mas não supera seus conflitos internos. Confuso, entra em depressão e começa à sofrer com delírios totalitaristas, chegando à ser drogado pelo empresário para subir no palco e tocar. Drogado, suas alucinações e delírios maximizam, chegando ele à manipular as platéias contra o "sistema". Colapsado, seus conflitos internos criam um "julgamento", terminado em catarse ao ser condenado à libertar-se de seu auto-isolamento. Destrói-se o muro.

Todo o conceito do álbum remete à uma discussão de Waters, durante um show da turnê "In The Flesh", quando ele cospe na cara de um espectador, incomodado com a plateia que não parava de gritar e berrar, mesmo nas músicas mais tranqüilas. Percebendo estar apartado e alienado de seu público pelo estrelato e também por circunstâncias pessoais, ele imagina tocar construindo um muro entre si e a plateia. Daí, The Wall. O disco tem mais de 80 minutos, e muitos hits, entre eles Another Brick in the Wall (em três partes, sendo a mais conhecida a segunda), Hey You, Is There Anybody Out There? e Confortably Numb, tido como um dos maiores riff's de guitarra da história do Rock.

Todo o disco é permeado da contestação, política e social, contra governos opressores, imperialistas, autoritários. Esse conceito é amplamente resgatado pelo show, utilizando extensivamente

O Espetáculo

Aguardando o início do Show

Pensado desde o início, nos anos 80, como uma espécie de Opera, um show de alta teatralidade, encenando a história da personagem fictícia, o roqueiro Pink, o espetáculo conta com um telão de quase 140 metros de largura, que se metamorfoseia no aludido muro, além de um telão circular de 9m de diâmetro, pirotecnia e bonecos e avião, compondo o cenário. Veja abaixo.


O Setlist

Confira abaixo o set list do show:

"In the Flesh?"
"The Thin Ice"
"Another Brick in the Wall Part 1"
"The Happiest Days of Our Lives"
"Another Brick in the Wall Part 2"
"Mother"
"Goodbye Blue Sky"
"Empty Spaces"
"What Shall We Do Now?"
"Young Lust"
"One of My Turns"
"Don't Leave Me Now"
"Another Brick in the Wall Part 3"
"The Last Few Bricks"
"Goodbye Cruel World"

Intervalo

"Hey You"
"Is There Anybody Out There?"
"Nobody Home"
"Vera"
"Bring the Boys Back Home"
"Comfortably Numb"
"The Show Must Go On"
"In the Flesh"
"Run Like Hell""
"Waiting for the Worms"
"Stop"
"The Trial"
"Outside the Wall"

O Show

Após cerca de 40 minutos de atraso, Waters iniciou o espetáculo com um discurso dando o tom político que é inerente ao álbum, e homenageando Jean Charles de Menezes, assassinado pela polícia londrina em 2005, confundido com um terrorista.


A galera foi ao delírio quando começou a tocar "In the Flesh?". Começaram à se suceder as músicas, à medida em que o muro era erguido, remontando a trajetória isolacionista da personagem principal. The Thin Ice, seguido de Another Brick in the Wall Parte 1, The Happiest Days of our Lives e Another Brick in The Wall Parte II, seqüência que levantou a platéia gritando em coro o refrão. Nesse momento, as luzes ficaram apagadas, com as imagens do palco projetadas em nuances de preto e vermelho, dando o tom contestador.



Continaram com Mother, com projeções direcionadas aos governos, quando Roger pergunta "devemos confiar nos governos?", respondendo de forma impublicável, Goodbye Blue Sky (com o telão mostrando bombardeiros), Empty Spaces, What Shall We Do Now?, Young Lust, One of my Turns, Don't Leave Me Now, Another Brick in the Wall Part 3, The Last Few Bricks e Goodbye Cruel World, com o muro se fechando por completo, e o telão apresentando a fase decisiva de Pink, encarcerado em seu mundo e lutando com seus dilemas internos.

Last Few Bricks


Após o intervalo de uns 20 minutos, o espetáculo prossegue com banda totalmente apartada do público tocando Hey You.



Is There Anybody Out There? e Nobody Home já assistem alguns tijolos caírem, após Vera e Bring The Boys Back Home, um dos ápices do show com Confortably Numb.



Depois de The Show Must Go On e In The Flesh, veio Run Like Hell, a que filmei por inteiro. A cena clássica dos martelos caminhando.


O show se aproximava do ápice, em Run Like Hell, a multidão manipulada por Pink já criara confusão. Após Waiting for the Warms e Stop, chega o momento do julgamento de Pink.


Para quem não sabia o que esperar, foi um show em que o velhinho se esforçou ao máximo, fez um tremendo show, nesta história quase que auto-biográfica. Daí já era hora de ir pra casa...

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