sábado, 24 de outubro de 2009

Rise and Fall: a história de uma crise

"If you put the federal government in charge of the Sahara Desert, in 5 years there'd be a shortage of sand".
Milton Friedman

Quando do estouro da Crise Financeira Mundial, os Profetas do Apocalipse, antes condenados ao ostracismo acadêmico e político pelo próprio fracasso, ressurgiram das cinzas, qual Fênix rediviva, estufaram o peito, ergueram a cabeça e, uma vez mais, anunciaram o fim do Capitalismo, e o início de uma nova era, um novo tempo. Novamente, como já haviam feito inúmeras vezes, eles distorceram a realidade até que ela se enquadrasse nos seus conceitos ideológicos antiquados. Como em 1929 e como na Crise do Petróleo, informaram aos "infiéis" que o motor propulsor do capitalismo era justamente e força interna que o iria destruir: a liberdade econômica.

O ponto central desta idéia era bastante simples e palatável: fora a ganância exacerbada dos banqueiros que havia gerado a Crise. Diante deste pressuposto, fica fácil condenar o Capitalismo e a Liberdade Econômica. É uma velha tática de discussão, a Tática do Espantalho. Escolhe-se um espantalho facilmente condenável. Neste caso, a Liberdade Econômica como culpada pela crise. Entra-se na discussão basicamente vencida, derruba-se o Espantalho e anuncia-se como o vencedor do debate. Pronto.

O que os nossos gloriosos guerreiros não comentaram é que não se trata de uma Crise de Liquidez, muito pelo contrário. É uma Crise de Solvência. Mas pra entender isso, quero explicar umas coisinhas, fazer um flashback, até o início de tudo.

"E Deus criou a Terra, e viu que era bom..."

Ops, não TANTO... Para compreender as raízes desta Crise, é preciso entender a história recente da Economia Americana. Após um relativo sucesso da Administração Clinton em estabilizar a economia interna e distender as relações internacionais, a Administração Bush (compreenda-se, o Alan Greenspan, incensado como gênio, trabalhou para as DUAS administrações) falhou em controlar os Déficits Gêmeos, Fiscal e Comercial. Com a progressiva elevação dos gastos militares, em especial, e a conseqüente e gradativa degradação da Economia Interna, o Gov. Americano decidiu reduzir arbitrariamente as taxas de juros afim de reanimar a economia. Algo parecido, portanto, com o que defendem em Terra Brasillis os economistas mais heterodoxos e estruturalistas, os socialistas e os seguidores cepalinos. É de fácil constatação que uma economia com liquidez crescente consegue facilmente crescer de forma rápida. Até um cachorro consegue fazer isso. Mas sempre que o Governo manipula a Economia como se fosse uma marionete, na crença de que pode melhorar a alocação de recursos, mais cedo ou mais tarde, a economia cobra o seu tributo.

É simples e complicado ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo em que relaxa a política monetária baixando as taxas de juros, o governo aquece a economia, o que também acaba gerando uma demanda inflacionária. A economia aquece porque negócios que antes não eram viáveis, passam à ser, de forma artificializada, como que por um passe de mágica. Mas quando a inflação - e as pressões dos Déficits Gêmeos - se fizerem presentes, e o Gov. tiver novamente de elevar a taxa de juros (e garanto à vocês que isso vai acontecer, cedo ou tarde), estes negócios artificialmente feitos viáveis, voltam à ser inviáveis, e ai vem a ressaca do aquecimento induzido da economia.

Foi isto que ocorreu. Pequenos investidores familiares, atraídos pelo tremendo e repentino aquecimento do mercado imobiliário, já forte em países desenvolvidos, começaram à especular com imóveis cujo preço estava inflado artificialmente. Um exemplo bem prático. Uma família com uma hipoteca de US$ 100.000,00, cujo imóvel teve seu preço elevado à US$ 200.000,00 teve ofertado por instituições bancárias créditos para serem lastreados neste aumento de preço dos imóveis. Estas instituições venderem títulos no mercado afim de obterem recursos para emprestarem. Trocando em miúdos, estas instituições lastrearam seus títulos em créditos lastreados em preços elevados artificialmente de imóveis. Em alguns casos, as instituições que compraram tais títulos, também emitiram títulos para financiarem as operações. Estas operações levam o nome de "Derivativos", e foram os grandes alvos da fúria dos Profetas do Apocalipse.

Ocorre que, no princípio de toda essa situação está uma redução de juros, que feita artificialmente e num país cujos Déficits Fiscal e Comercial já eram um pesado fardo para a economia interna gerou toda a bolha especulativa no mercado imobiliário.

Mas tem uma coisa ainda mais bizarra em toda esta situação. Para vencer a crise, os Governos ao redor do Mundo optaram por qual remédio? Reduzir as taxas de juros artificialmente. Ahh, a sutil ironia, esta brincalhona. De toda a sorte, onde estarão os Profetas do Apocalipse agora, que a crise está cedendo?! Pois eu lhes digo facilmente: aguardando a nova bolha que surgirá das políticas anti-cíclicas que os Governos ao redor do Mundo operam para vencer a Crise. Senão vejamos: estas políticas aumentam o Déficit Fiscal e aumentam as Pressões Inflacionárias. Hummm, percebem alguma semelhança?