terça-feira, 29 de novembro de 2011

O Fim Sem Fim do Capitalismo: de novo, a lanterna na pôpa

Às vezes, quando demonstro admiração pelo trabalho e legado de Roberto Campos, jocosamente apelidado pela esquerda festiva de "Bobby Fields", as pessoas me olham com desconfiança e espanto.

Sua obra possue a habilidade e discernimento para pensar o presente e o futuro que os fãs atribuem à Karla Marx. Não obstante, até o presente momento nenhuma das "previsões" de Marx chegou à ocorrer, relegando-se este à mera categoria de poeta - enquanto colega de Nostradamus - ou ainda de pensador social. Como Economista, fracassou fragorosamente, fato que seus adeptos negam-se à aceitar.

Como forma, talvez, de auto-afirmação, à cada crise do capitalismo, surgem de novo os Profetas do Apocalipse, às gritas de que, finalmente, o Messias tenha acertado: é o fim do Capitalismo. E o sem fim, na verdade, do fim.

"Poucas coisas têm sido mais profetizadas que o fim do capitalismo. Parafraseando Mark Twain, pode-se dizer que as notícias de sua morte são algo exageradas. Se duas lições a história nos ensina é, primeiro, que a história não é dialética: “o socialismo não sucedeu ao capitalismo”, para usar a expressão de Daniel Bell. E, segundo, que a crise do socialismo parece hoje mais séria que a do capitalismo."

Acerta em cheio, Campos, ao colocar que a crise do Socialismo é mais séria do que a do Capitalismo, eis que o Estado do Bem Estar Social europeu está entrando em colapso, fruto exatamente deste monolitismo e da falta de sistemas de incentivos que pudessem dinamizar as economias européias.

"Nenhum dos dois sistemas hoje existe, obviamente, em sua forma pura, o que torna os termos “capitalismo” e “socialismo” simplificações duvidosas. Mas não se deve exagerar a convergência dos dois sistemas. As “economias de mercado” são perfeitamente diferenciáveis das “economias de comando”, ainda que as primeiras tenham absorvido graus intensos de intervenção governamentais e as segundas comecem a admitir os sinais do mercado no tocante a preços incentivos. Isso é dramaticamente perceptível nas zonas de confrontação: Alemanha Ocidental versus Alemanha Oriental, Coréia do Norte versus Coréia do Sul, China Continental versus Taiwan, e assim por diante."
Da mesma forma, é comum ver por aí análises simplificadoras do tipo "preto e branco", ignorando a existência de matizes de cinza. A China Popular não é um estado comunista em estado puro, como os Estados Unidos não são um estado capitalista liberal em estado puro. Mas existem matizes de mercado e estado em ambos.

Enquanto rui o Welfare State europeu, o Espantalho sobrevive: não importam as análises frias, interessa culpar o Capitalismo, o Liberalismo, as Grandes Corporações. Mas nunca o responsável único pela problemática européia: o Estado que gasta demais e que interfere demais na economia.

Novamente, neste artigo de 1981, Roberto Campos mostra característica que permearia sua obra, e que consolidaria no seu livro "A lanterna na pôpa". Escolhido à dedo o nome do livro, Campos alegaria que de todos os seus trabalhos consideraria-se uma "lanterna na pôpa", incapaz de iluminar o caminho à frente, sempre iluminando o caminho já percorrido, sem conseguir mobilizar suas idéias.

Para o bem do país, que possamos, ao menos, aprender com os caminhos iluminados pela Lanterna na Pôpa...

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