domingo, 13 de novembro de 2011

Invasão na USP e Movimento Estudantil

Ao desocupar, por força de decisão judicial, a reitoria invadida da USP, o que a PMSP e representantes da universidade encontraram foi um cenário de destruição, desnecessário sob qualquer aspecto. Ainda que fossem legítimos os pleitos dos estudantes, haveria necessidade daquele tipo de depredação? Esta questão suscita uma reflexão sobre a invasão, em um primeiro plano, e sobre o movimento estudantil, em outro.


Os protestos que culminaram na invasão da reitoria começaram porque a PM tentou deter três alunos que fumavam maconha nas dependências da USP. Revoltados, os colegas começaram uma confusão para evitar que os três fossem, de fato, detidos e fichados, isto no dia 27 de Outubro. Daí para a invasão da reitoria, foi um pulo. Cabe lembrar que no fatídico dia 27, o tensionamento e a agressão começaram por parte de estudantes que lançaram cavaletes contra a PM. Mesmo assim, os três estudantes concordaram em assinar um termo circnstanciado, sob a garantia de que não seriam fichados nem teriam aberto contra eles um inquérito. Vale lembrar que ainda foram encontrados na reitoria, após a desocupação, sete coqueteis-molotov e alguns sinalizadores, e que jornalistas foram agredidos por estudantes. Isso ajuda, claro, à formar uma visão mais complexa do contexto em que se desenhou e prosseguiu o movimento.

Daí se pode imaginar que uma das "causas" dos revolucionários é, de fato, a questão da legalização da Maconha. Mas aí a primeira incoerência. Se lutam pela (justa causa, vale dizer) legalização da Maconha, deveriam ter orgulho de serem fichados na Polícia, como forma de protesto e desobediência civil. Como pouco estudaram ou aproveitaram de seus estudos, não conhecem a história da Marcha do Sal, o maior símbolo da desobediência civil na história. Ao desobedecerem a lei vigente, Ghandi e seus discípulos aceitaram passivamente as sanções que contra eles impôs o governo colonial britânico, como prova do orgulho que tinham de um ato rebelde. De onde concluem-se que a questão da legalização da maconha não está na pauta dos revolucionários. O que eles querem, mesmo, é fumar maconha sem serem importunados pela PM.

O que nos leva ao próximo tema do dia: o perfil do "revolucionário médio" da USP. A foto de um jovem portando roupas de grife é altamente constrastante com a idéia de uma revolução "estudantil e proletária". Revolucionários de apartamento, só pode. Alguns relatos inclusive davam conta de alguns invasores retornarem para casa para degustarem seus almoços ou jantares quentinhos. Mas quando foi que os revolucionários deixaram de ter a fibra de enfrentaram, sozinhos, a dureza da "revolución"?




Também podemos falar num outro flagrante, o do "Estudante Profissional". Sim, eles existem. Trata-se de Rafael Alves, ex-estudante de Letras, jubilado por estourar o prazo de 7 anos para se formar, perdendo portanto o direito à moradia estudantil, gratuita. Retornando por meio do vestibular, agora postula novamente a moradia estudantil, garantindo-lhe mais um longo período na faculdade para protagonizar a agitação social, vinda sei lá de qual partido. Mas acreditem, existe por trás dele um partido financiando sua agitação social.


Voltamos agora à pauta de reivindicações dos manifestantes. Primáriamente, tratam da desocupação do campus da USP pela PM, ocupação que teve como ponto de partida o homicídio de Felipe Ramos de Paiva, em 18 de maio deste ano. Sobre isto, a mãe de um dos invasores disse que "Saidinha de banco não tem só na USP, tem todo dia, em qualquer lugar. Foi uma fatalidade", em entrevista para o Jornal O Globo. "Os covardes foram com coturnos para tirar 70 coelhinhos que estavam dormindo. Estudante briga, depois fica em paz", disse ainda a mãe, querendo eximir os alunos da responsabilidade sob seus atos. É este tipo de conduta que queremos premiar?! Não me parecem que os estragos da primeira foto sejam produtos de "coelhinhos". O restante da pauta são velhos chavões anti-capitalistas e comunistas, tão profundos quanto um pires convexo. Segundo nota divulgada por pesquisadores da USP, "Ao contrário do que tem sido propagandeado pela grande mídia, a crise da USP, que culminou com essa brutal ocupação militar, não tem relação direta com a defesa ou proibição do uso de drogas no campus. Na verdade, o que está em jogo é a incapacidade das autoritárias estruturas de poder da universidade de admitir conflitos e permitir a efetiva participação da comunidade acadêmica nas decisões fundamentais da instituição. Essas estruturas revelam a permanência na USP de dispositivos de poder forjados pela ditadura militar, entre os quais: a inexistência de eleições representativas para Reitor, a ingerência do Governo estadual nesse processo de escolha e a não-revogação do anacrônico regimento disciplinar de 1972." Ou seja, uma confusão gerada por três guris fumando maconha consegue, vejam só, ser sintonizada com uma Ditadura Militar há 26 anos encerrada. Falharam, também, ao proverem algum tipo de debate ou proposição mínimamente rasoável, para a questão da segurança no campus, que é hoje um tema central da sociedade brasileira, haja visto a crescente violência assistida no país. Na contramão destes pesquisadores, o professor João Carlos Barata acha que "Eles têm uma técnica proposital de fazer assembleias longas e que entram na madrugada. Quando os opositores vão embora, eles votam o que querem".

Isso tudo só reforça a conclusão triste: a galopante pauperização da pauta de debates do Movimento Estudantil no Brasil. A figura abaixo é representativa. Qualquer que seja a publicação isntitucional de UNE/UBES, pode se pensar que trata-se de um mero Ctrl+C Ctrl+V de algum partido de extrema esquerda. O movimento estudantil é hoje incapaz de recletir e fazer um auto questionamento, e no bojo deste processo, apresentar uma produção cultural e política nova, vanguardista.


Pouco, é verdade, poderia se esperar de um movimento tão estanque e autoritário, em contraposição às suas origens pretensamente progressitas e democráticas, quanto o Movimento Estudantil capitaneado pela UNE/UBES, visceralmente ligado aos partidos de extrema esquerda, especialmente o PCdoB, que utilizam-se de toda a sorte de artifícios para manterem o controle ideológico e político da entidade, e transformá-la de uma instituição de históricas lutas para uma chapa-branca pró-Lula. O gov. paulista, Geraldo Alckmin, inclusive declarou que "aula de democracia". Em parte é verdade. Qual a representatividade deste pretenso movimento? Em pesquisa do Datafolha, 58% dos alunos eram favoráveis à permanência da PM no campus e 73% eram contra a invasão da reitoria. Ao mesmo tempo, uma assembléia do dia 1º de novembro, quando os estudantes ainda ocupavam o prédio administrativo da FFLCH, e que encerrava a ocupação, foi ignorado pelos estudantes, que no dia seguinte ainda invadiram a reitoria.

Sobre a desocupação, para o juiz José Henrique Rodrigues Torres, ela foi desproporcional, porém não houve nenhuma lesão mais grave nos estudantes. No mesmo link, segue entrevista de um estudante da História, dando sua versão. Segundo ele, os PMs prenderam estudantes por todo o campus, mesmo que não estivessem na invasão, e reclamou de abusos da política, por usarem algemas, e desocuparem o prédio com o uso da força. Para o juiz, é irrelevante se a versão é verídica ou não. Na opinião deste blogueiro, não existe motivos para que os alunos não sejam tratados pela polícia como qualquer outro detido.

Até onde se legitima o movimento estudantil, mais identificado com a política partidária do que com o interesse do aluno? Qual a representatividade dos poucos que decidem a política dos movimento estudantil? Qual o presente e o futuro de um movimento cada vez mais chapa-branca e cada vez mais acéfalo, sob o aspecto da pauperização das pautas e reivindicações?

EDITADO:

Achei ótimos artigos relacionados e os listo abaixo, pois achei que tinha feito grandes coisas ao escrever o presente artigo e após ler os outros percebi que trata-se de uma porcaria. Minha dica é: não leiam esta josta e passem direto para os links abaixo.

- 8 mentiras que você anda lendo sobre a PM na USP
- Na USP, mais flagrantes de semi-analfabetismo, tráfico e "tempos ÁUREOS da ditadura"

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