quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O Derradeiro Aniversário!

"Todos os caminhos levam ao Olímpico Monumental"

É difícil pensar em algo para escrever. Saber por onde começar. A casa que nos abrigou, e que abrigou muitos dos nossos anseios, medos, nosso otimismo e pessimismo, está com seus dias contatos.

Quando as primeiras tratativas da Arena se aventaram, no longínquo 2006, o futuro ainda parecia distante, incerto, nebuloso... Mas o que estava lá, adiante, agora está ali, na nossa esquina, aguardando apenas alguns poucos passos para o inevitável. O Olímpico será demolido, e talvez uma parte do coração de cada gremista seja levada junto, entre a poeira e os escombros. "Do pó viestes, ao pó voltarás", nada pode ser tão verdadeiro. Construído em meio à uma mobilização fenomenal da torcida pelos quatro cantos do Rio Grande, será este o inevitável e inapelável fim do Olímpico.

Quando penso no Olímpico, são dezenas, centenas de memórias que vêm à mente, e o mesmo sentimento eu tenho por certo que habita o íntimo dos corações de todos que escolheram o Grêmio, ou que por ele foram escolhidos... E é exatamente disto que é feito o Estádio Olímpico Monumental. Esqueçam o concreto, os tijolos, a brita, o cimento. O Olímpico é construído de histórias, e histórias são sempre construídas de gente, de pessoas, de sentimento... Quantas foram as histórias vividas dentro, e por vezes fora, daquelas quatro linhas desenhadas com a cal? E não só bonitas, mas as feias também, porque nem só de sucessos é erigida uma grande história. O fracasso é por vezes a cola que unta um momento de glória ao próximo.

E as histórias que ouvimos e passamos às futuras gerações não se encerrarão embaixo daqueles escombros. O Olímpico deixa de ser um Estádio para passar à condição de História. E elas são feitas de gente. A primeira daquelas histórias épicas escutei antes mesmo de sentar a bunda a primeira vez no concreto do Olímpico. Meu pai, um gremista de quatro costados, assim como meus tios Milton e Guido, sempre contavam. O apito final de um fatídico Gre-Nal no lingínquo 1977, ano em que o Grêmio amargava oito anos na fila do Gauchão. Mas não desta vez. Pelos pés de Catimba, o André, estava dado o sinal. Os três invadiriam o gramado, inadvertidamente, junto com uma multidão que parecia saber que os anos vindouros reservavam grandes realizações. Um tufo de grama, à guisa de troféu, foi plantado no quintal de outro "velho casarão".

Nem só de Grêmio se alimentam as histórias deste estádio. Outra recordação forte foi um jogo da Seleção, válido pelas eliminatórias da Copa de 2002. Uma seleção cambaleante, comandada pelo recém contratado técnico Felipão, mais conhecido como DEUS, escolhera nada mais do que estrategicamente os pampas gaúchos para amealhar algum apoio vindo das arquibancadas. Convocados Tinga e Eduardo Costa, do Grêmio, com o mesmo propósito. O apoio veio e a vitória contra a Seleção Paraguaia pavimentou o caminho até a Copa do Mundo, na Ásia, onde por duas vezes Luiz Felipe esteve às portas da glória, com Grêmio e Palmeiras.

Outro jogo eu não me recordo com exatidão. Mas foi contra o Atlético/MG, no início da Era ISL. Fomos de Camarote, eu, Thiago e o Rugardo, não sem antes encher o pandulho na Churrascaria Mosqueteiro. Eu não lembro sequer do placar do jogo, mas à julgar pela história, não deve ter sido alvissareiro, época de Amatos e Astradas, muita grife e pouco resultado.

Em 2005, devo ter ido à quase todos os jogos. Num deles, Grêmio e Avaí, como gatos, como ninjas, nos esgueiramos para dentro da Sala de Entrevistas, e continuamos, rumo ao gramado. A oportunidade de ver tudo dali de dentro é única. As arquibancadas vazias, mas a energia estava ali. Com meu cunhado e outros, tiramos fotos na casamata, rolei no gramado. Arrepiante. Na volta, tivemos de passar por dentro do vestiário, sob o olhar ameaçador dos seguranças. Sim, srtas., tudo à mostra, hehe. Novamente nos esgueiramos para fora, onde ainda alguns jogadores davam entrevistas.

No ano seguinte, após uma campanha vacilante, o time toma corpo, recuperado junto com a torcida. Num dos jogos, já no returno, Grêmio e São Paulo, nada menos que o líder e futuro campeão. Jogamos como nunca, e empatamos. Mas um empate do qual pudemos degustar. Com menos de 1 minuto de jogo, Danilo estufava as redes, diante de milhares de gremistas incrédulos, e anestesiados. Por quase um minuto, o silêncio parecia inquebrantável. Mas como que por um chamado do inconsciente coletivo, toda a torcida começa à gritar... "Grêmio, Grêmio", em uníssono, empurrando o time à frente. A virada parecia questão de tempo, mas o empate com Hugo em lançamento de Tcheco parecia um resultado digno.

Mais adiante, em 2007, dois jogos absolutamente inesquecíveis. Com a mesma receita que o levara às grandes glórias, contando com nomes como Patrício e William, o Grêmio eliminava o São Paulo da Libertadores, em casa, com um sonoro 2x0, e nas Semi-Finais, na primeira partida, sem que sequer um chute do adversário ameaçasse a meta de Saja, dava um salto gigante para chegar às finais do certame. Dois jogos inesquecíveis pelo brilhantismo e valentia com que se portou a equipe.



Em 2008, ano memorável, foi também a primeira e única vez que fui na Geral. Grêmio 2x1 Coritiba, com a companhia da gremista de primeira hora, Luíza.


Rememoro também o fatídico 12 de Novembro de 1998. Ora classificado, ora desclassificado, o jogo contra a Portuguesa foi sem dúvida um dos mais tensos do torneio. Tendo que torcer por vários resultados paralelos, a vitória por 4x2 levaria ao confronto contra o Corinthians, que nos eliminaria, não sem muita luta. Eram os tempos do Juarez bigodudo. Saudosos tempos.

São tantos momentos que já nem me recordo. Mas como disse, é disso que são construídas as histórias. Daquelas trajetórias particulares que se travam no gramado, opondo duas equipes, e das que se prostam, impotente, do lado de fora. Mas a história não vai parar. E para o Olímpico, chegou o suspiro final. Quando o apito final pôr fim ao Gre-Nal de nº 394, estará findada a história que começara 58 anos e alguns meses antes. O primeiro gol foi de Vitor, pelo Grêmio, e último, de quem será? Muito mais importante do que o Jogo de Inauguração da Arena, será o último jogo do Olímpico, e nada poderá ser mais emblemático do que encerrar a história por meio de um Gre-Nal. Que os Deuses do Futebol permitam que a vitória sele o destino.

Mas porque mais importante? Porque quando o derradeiro momento do Olímpico tiver lugar, aí então estaremos escrevendo uma nova história, a história da Arena, da qual faremos parte como os que fizeram parte dos primeiros anos do clube no Largo dos Campeões, nº 1. E quem sabe quais as histórias que algum abnegado gremista poderá escrever quando o inevitável vier para a Arena, daqui outros 60 anos, ou mais?

"E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer."
Em 2 de Dezembro, quando terei festejado meus 26 anos, nenhum caminho mais levará ao Olímpico. Monumental mesmo só nossa saudade do Velho Casarão.

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Um comentário:

  1. Show de bola, cara...

    A emoção que vai ser o último jogo, o último gol, a última avalanche (ainda que eu não seja um simpatizante da "geraldice"), o último apito final, essa emoção não tá descrita em lugar nenhum.

    Que o juiz se negue a encerrar o jogo!

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