sábado, 17 de março de 2012

Blackmore, o Mala

Que o Deep Purple é uma das maiores bandas da história, todo mundo sabe. Que eles são Vovôs do Heavy Metal, nem todo mundo sabe. Que eles são fãs do futebol e desfilaram sua "habilidade" em gramados brasileiros, e fardando o tradicional uniforme tricolor, em preto, azul e branco, bom, isso quase ninguém sabe...

Em 1993, eles vieram ao Brasil, para alguns shows, e a história contada abaixo foi retirada de uma edição da Revista Placar.

"Quando o Deep Purple tocou no Brasil pela primeira vez, eu trabalhava na Folha e fiquei todo empolgado para entrevistar os caras. Afinal, Machine Head e Live In London tinham me ajudado a superar o tédio do ginásio, e Blackmore sempre foi um de meus guitarristas prediletos (na minha turma, só de sabbathmaníacos, ele perdia todo ano a eleição dos melhores para Tony Iommi).
Fiquei chateado ao descobrir que Blackmore não daria entrevistas. Ele ficou enfurnado na suíte cinco estrelas enquanto eu conversava com Roger Glover e Ian Paice,  dois dos caras mais legais e simpáticos do planeta. Descobri que eles estavam a fim de armar uma pelada, e me prontifiquei a ajudar. Arrumei um campo num sítio em Embu, e marcamos um jogo para uma manhã de sábado. Foi aí que meus problemas com o Blackmore começaram.

O cara era fanático por futebol, e queria jogar de qualquer maneira. Mas começou a fazer umas exigências bizarras. O empresário da banda me ligou, desesperado:

- O Ritchie perguntou se o lugar tem um vestiário separado onde ele possa se trocar sozinho.
- É lógico – eu disse, mentindo, pois nunca havia posto os pés no lugar.
- Ele quer escolher os times…
- Tudo bem…
- Tem mais uma coisa: ele exige que o time dele jogue com camisas azuis e pretas!

Disse para o empresário que o único time preto e azul do Brasil era o Grêmio. O infeliz rodou a cidade toda até achar um jogo de camisas do Grêmio.

No sábado encontrei os caras no hotel. Havia chamado vários amigos, alguns deles funcionários da Folha. O empresário da banda alugou um microônibus para levar os peladeiros. Só havia um problema: Blackmore queria ir sozinho numa Mercedes dourada (exigência dele), meia hora antes dos outros. Alugaram a tal Mercedes, dei o endereço para o motorista, e lá se foi o baú.

Quando nosso ônibus chegou no Embu, a Mercedes ainda não havia chegado. Esperamos mais uns 45 minutos, e nada. O empresário já estava pensando em ligar pra polícia quando o carro apareceu. O idiota do motorista havia se perdido e foi parar no meio de uma favela. Disse que quase deixou Blackmore por lá mesmo.

Começando o jogo, Blackmore assumiu sua posição na extrema esquerda, banheira avançada, de onde não saiu mais. Ele só dirigia a palavra seu guarda-costas, um sujeito esquisitão que parecia o Ovelha, aquele cantor brega. Quando o guitarrista queria reclamar de alguém que não havia passado a bola, ele falava para o Ovelha e esse retransmitia o recado.

- Ritchie quer que passe a bola pra ele!
- Ritchie quer bater o próximo escanteio!
- Ritchie está reclamando porque ainda não marcou um gol!

Todo mundo logo ficou de saco cheio do mala. Fizemos um pacto pra ninguém lhe dar mais um passe sequer. A fruta ficou aflita, bateu o pezinho, deu chilique e reclamou à beça pro Ovelha. Um motorista da Folha, já no final do jogo, deu uma entrada criminosa – porém merecida – no mala, jogando o cara uns dois metros pra fora do campo. Todo mundo se escangalhou de rir. Depois fomos a um churrasco com Paice, Glover e Jon Lord – que, aliás, nem entrou em campo e ficou de fora comendo lingüiça. Blackmore se enfiou na Mercedes e foi embora. Ainda bem.

(André Barcinski)"


Para finalizar o post, colo uma música do álbum "The Battle Rages On", faixa-título, que em tese é do período da visita do Deep Purple ao Brasil.


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