domingo, 22 de setembro de 2013

Grêmio, por eternos 100 anos, Campeão Farroupilha

Toda boa história ou estória tem um pouco de lenda, algum herói, uma façanha... Com esta não é diferente.

Nos idos dos anos 30 haviam dois torneios de importância no futebol gaúcho: o Campeonato Gaúcho e o Citadino de Porto Alegre, conhecido como Metropolitano. Em 1935, preparava-se o Rio Grande do Sul para comemorar o centenário da Revolução Farroupilha, e em homenagem, ambos os torneios ostentaram o título de Campeonato Farroupilha.

Para ambos, o franco favorito era o Internacional, incumbente dos dois títulos. Ainda mais que o Grêmio havia perdido seu maior craque, Luiz Carvalho, para o Vasco da Gama, do Rio de Janeiro. Ainda, o Grêmio perdia o bastião de sua defesa, o goleiro Lara, recomendado de jogar pelos médicos que diagnosticaram problemas cardíacos. Isso após um choque num jogo contra o Santos.

Lara não quis nem saber, e jogou o primeiro Gre-Nal do torneio, à 28 de Julho. Consta que tenha sido um dos destaques, mas o grande nome do jogo foi Castilho, ponteiro-esquerdo que empatou a partida no que ficou chamado de Gol do Avião. Reza a lenda que, quando o jogo estava 1x0 para o Inter, e Castilho dominava a bola na frente da Grande Área adversária, um avião deu as caras fazendo manobras e piruetas sobre o campo dos Eucaliptos. O goleiro Penha e os zagueiros Natal e Risada teriam se distraído assistindo ao movimentos do avião e permitido o gol do Grêmio. Outra lenda ainda diz que, após a partida, Castilho teria sido raptado e mantido em cativeiro no Belém Novo. Fato ou Lenda, Castilho reapareceu somente em 1936, jogando pelo Internacional.

O Internacional, além de todo o favoritismo, ficou um ponto à frente do Grêmio antes do derradeiro jogo, um Gre-Nal, chamado de "Farroupilha", que seria disputado em 22 de Setembro. Isso porque o Grêmio perdeu para o Força e Luz por 2x0. Isso daria ao Inter a vantagem do empate para sagrar-se campeão.

Ainda, a doença de Lara se agravara e este fora terminantemente proibido de jogar. A confiança era tanta que um torcedor colorado caçou 11 cachorros pelas ruas de Porto Alegre, pintou-os de vermelho, e guardou-os em sua camionete, momentos antes do jogo na Baixada, para lançá-los à campo após a vitória como um chiste, uma provocação.

Lara comunicou, antes do jogo, que iria à campo. Consta que a maior parte da torcida era vermelha, mas quando Lara entrou em campo, junto com os colegas, a torcida tricolor foi ao delírio. O ídolo não decepcionou. Com o Inter dominando as ações durante todo o primeiro tempo, Lara fez boas defesas e juntamente com Dario e Luiz Luz trabalhou bastante para manter a meta gremista invicta.

Os times foram para o intervalo em 0x0, e a comemoração era, até ali, colorada, que explodiu a saber que Lara não voltaria para o segundo tempo, em virtude do agravamento das dores no peito, e seria substituído por Chico. Segundo a lenda urbana, Lara teria morrido dentro de campo, ao defender um pênalti cobrado pelo próprio irmão. Não houve pênalti, seu irmão não jogava no Internacional e Lara morreria cerca de um mês e meio depois, em 6 de Novembro.

Novamente, inflamado pela ausência do grande ídolo gremista dos últimos anos, o Inter dominava as ações e dava muito trabalho à defesa do Grêmio. Mas o empate não interessava ao Grêmio e os atacantes não achavam caminhos ou brechas até o gol colorado. Esse cenário permanecia até os 37 minutos do 2º Tempo. À época o jogo tinha dois tempos de 40 minutos. Nesse momento o tal torcedor colorado, já comemorando, foi pegar os cachorros que levara ao campo.

O Grêmio tinha falta na intermediária. O meia Mascarenhas estava posicionado para cobrar. Consta que Osvaldo Rolla, o também lendário Foguinho, teria dito ao colega: "Levanta a bola no meio da área que o Risada vai tirar e eu vou pegar o rebote". Dito e feito: Mascarenhas alçou, Risada afastou e Foguinho, de sem-pulo, abriria o placar. Gol do Grêmio.

Osvaldo Rolla, o Foguinho.

Festa da torcida gremista, e os jogadores colorados pareciam atordoados. Levavam a bola para o círculo central, para fazer o gol que lhes valeria o título. Logo na saída de bola, o insistente Foguinho roubou a posse de bola e lançou-se ao ataque. Com objetividade, correu rumo ao gol, e na saída do goleiro Penha, escorou para o colega Laci fechar o placar. 2x0 e o título. Lara, reunindo suas forças, conseguiu comemorar junto dos colegas e da torcida.

Lacy.

Uma das histórias conta que o colorado dos cachorros soltara os mesmos, que o atacaram após dois foguetórios gremistas, levando o mesmo à ser internado no hospital por conta dos ferimentos.

A Baixada foi pequena para tanta festa. O técnico e capitão Sardinha I, emocionado, sugeriu que o título fosse comemorado, por cem anos, com um jantar do clube no dia 22 de Setembro de cada ano. Nomeado Jantar Farroupilha, desde então o Grêmio cumpre rigorosamente o desejo daqueles grandes guerreiros.

Time campeão: Lara (Chico); Dário e Luiz Luz; Jorge, Mascaranhas e Sardinha II; Laci,Artigas, Russinho, Foguinho e Divino.

Quando da morte de Lara, a comoção tomou conta não só de gremistas como também dos colorados e dos torcedores de outros grandes clubes de Porto Alegre. A cidade parou para ver seu enterro. Sem sua presença, o Grêmio perdeu as finais do Campeonato Gaúcho de 1935, contra o Grêmio Atlético do 9º Regimento de Infantaria, de Pelotas. Após vitória por 3x1 e derrota por 3x0, o Grêmio perdeu jogo extra por 2x1.

Eurico Lara.

Em 1941, Getúlio Vargas decretou que unidades militares não poderiam ceder seus nomes à entidades esportivas. Por conta disso, o Grêmio Atlético do 9º Regimento de Infantaria ganhava, em homenagem ao seu único título gaúcho, o nome de Grêmio Atlético Farroupilha.

Grêmio Atlético Farroupilha, antigo 9º Regimento de Infantaria.
Fontes: Grêmio Hoje e Grêmio 1903.

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