sábado, 25 de fevereiro de 2012

Tiago Leifert e o Fim do Jornalismo Esportivo

A televisão brasileira desde sempre pôde ser envergada ao lado das melhores televisões do mundo em muitos aspectos. A teledramaturgia brasileira está entre as melhores, senão a melhor. As transmissões esportivas e o cronismo esportivo encontrou aqui sempre um terreno fértil para a maior paixão esportiva dos brasileiros, o Futebol, e especializou-se à tal monta que o Jornalismo Esportivo no Brasil, na opinião deste blogueiro, pôde ser considerado de alto nível.

Ao contrário de muitas transmissões jornalísticas, no Brasil procurava-se buscar o fato esportivo, o debate destes fatos, ou na pior das hipóteses, a objetividade da notícia. O Placar do Fantástico, com o eterno Léo Batista, narrando ou comentando os gols enquanto eles passavam na tela.

Estreia do Globo Esporte, em 1978:

Gols do Fantástico, em 1998:

Globo Esporte, em 1993:

Em 2010, com a criação do "Central da Copa", programa especial para a Copa do Mundo de 2010, e cujo formato, de certa forma, revolucionou o jornalismo esportivo. Pelo descontraído, pelo uso das tecnologias sociais (YouTube, Skype, Redes Sociais), e acima de tudo pela utilização dessas ferramentas de forma, porque não dizer, brilhante. Era um formato muito adequado ao horário que era apresentado, cuja edição principal das três diárias era à noite, antes do Jornal da Globo. Abaixo, uma amostra do porque o programa foi tão bem sucedido. Ao romper com a rigidez tradicional, talvez tenha o programa alcançado um público tão expressivo, mostrando os bastidores do programa.

Tiago Leifert mostra os recursos tecnológicos do programa:

Os gols "irregulares" da Argentina:

Tudo ia muito lindo e maravilhoso, neste conto de fadas da televisão moderna, quando Leifert apresentou uma proposta de repaginação completa do Globo Esporte, telejornal esportivo consagrado, porém desgastado em seu formato. Em SP, perdia diariamente para as intermináveis reprises de Cháves, gravado quase quarenta anos antes. O argumento de Tiago é que o público daquele horário, estudantes que retornavam das aulas matinais e que se preparavam para as aulas vespertinas, queria ver OUTRO tipo de jornalismo esportivo, mais dinâmico, engraçado. Ao adotar esse padrão, Tiago Leifert tornou-se a sensação do cronismo esportivo, o benchmark, o modelo à ser seguido. E isso deu certo. Finalmente o Globo Esporte reagia e voltava à bater Cháves naquele horário.

E esse "movimento" espalhou-se pelo país inteiro, por todas as emissoras. Não que ele tenha sido o inventor disso tudo. Muitos já haviam tentado essa fórmula, com variados graus de sucesso. O programa da Band "Esporte Total na Geral", com Beto Hora (um dos melhores imitadores do país), a encheção de saco do "Dança Renata", do "Jogo Aberto", da Band (além dos AnimaTunes do programa), e porque não lembrar do "Rock Gol", um dos melhores programas da falecida MTV?

Esporte Total na Geral, em 2005:

"Dança Renata", no programa Jogo Aberto:

O ápice da imbecilização do Jornalismo Esportivo foi, sem dúvida, o tal do "João Sorrisão", promoção da Globo para jogadores que comemorassem gols como o "João Sorrisão", roteirizando o único momento da partida em que o jogador entra em simbiose com o torcedor: naquele momento de euforia e gozo, jogador é também um torcedor. A imbecilização promovida pelo "João Sorrisão" foi tão grande que em dois meses a Globo aposentou o boneco inflável.

João Sorrisão no Globo Esporte:

Mas não tardou para o "Conto de Fadas" murchar, e da mesma forma em que o prestígio e a confiança crescem com a audiência, que é absoluta na TV, eles se esvaem fácilmente. Entre Janeiro de 2011 e Janeiro de 2012, a audiência do Globo Esporte caiu 20%, e isso representa fatias importantes de share e de mídia paga para a emissora. Leifert deixava de ser novidade, e sem conteúdo, a novidade nunca dura. Homens fortes na Globo já denunciavam a "imbecilização" do Jornalismo Esportivo da rede, um dos pontos fortes da mesma, e criticavam a falta de conteúdo. Observe a primorosa reportagem abaixo, sobre o CABELO DO NEYMAR...


Um problema maior surgiu quando um jornalista do GE, Léo Bianchi, mais um daqueles tipinhos "engraçadinhos", levou uma foto de Zé Ramalho, para uma entrevista com Barcos, do Palmeiras, comparado pela aparência com o cantor nordestino. Isso é futebol? Isso é jornalismo? Talvez jornalismo do tipo Caras, Contigo, etc... O mais interessante é que o Barcos acertou em cheio a problemática do jornalismo esportivo atual: "Acho que é pouco sério da tua parte". É pouco sério fazer uma reportagem na qual Daniel Carvalho fala de sua vida pessoal, e não de esporte, e no fim da reportagem ainda come "raspadinha com leite condensado", numa alusão pouco cordial ao peso do atleta.

Como é corriqueiro por parte do Leifert humilhar ou expôr as pessoas, ocorria com a argentina Marina, no "Central da Copa", ocorre quase que diariamente com o ex-atacante Caio, no Globo Esporte, ocorreu com Adriano, ex-atacante do Palmeiras, com Daniel Carvalho, e como foi tentado fazer com Hernán Barcos, que não se dobrou à esse "Circo dos Horrores", assim é o Modus Operandi de Tiago. O episódio com o atacante argentino gerou um, por assim dizer, spin off. Como Editor-Chefe do Globo Esporte, ele se envolveu numa discussão pelo Twitter, ofendendo alguns dos seus mais de um milhão de seguidores com adjetivos do naipe de "otário", "babaca", "retardado" e "tribufú".Veja clicando aqui. Os internautas acusaram, com rara precisão, que o episódio era motivado pela atual linha editorial do jornalístico, comandado por Tiago Leifert. A linha editorial de raspadinhas com leite condensado, fotos de Zé Ramalho, concurso do mais belo jogador é dele.
"Babaca é você seu retardado", respondeu Tiago a um deles. "Não vou em coletiva há três anos. Abaixa a bola aí. Fala na cara o dia que você me encontrar na rua, otário", completou o apresentador global.
Ao ser confrontado, optou pelo pior caminho. Como bem colocou em seu blog o Cosme Rimoli, ele teria outra opção, que era a de se aconselhar com Galvão Bueno:

Não existe ninguém no jornalismo esportivo que foi mais massacrado, humilhado do que Galvão Bueno.

Ele é o melhor narrador do país, sem dúvida alguma.

Só que a sua supexposição e a mania de comentar mais do que os comentaristas pesam contra ele.

Não foi por acaso que foi criada a campanha "Cala a Boca, Galvão".
Mas Galvão se comportou como um gentleman.

Mesmo diante de humoristas de gosto duvidoso como Vesgo do Pânico.

Os atende porque entende a situação.

Tem experiência e vivência para perceber que, apesar de contestado, seu talento é reconhecido.
Este blogueiro não se opõe ao bom humor, ao improviso, ao inusitado, ao engraçado. Mas há momento, espaço e até intensidade para tudo na vida, e não é preciso destruir a credibilidade, o bom jornalismo para isso. Há espaço para tudo na vida, mas quem sabe com algum conteúdo, não é? De mais a mais, o "Inacreditável Futebol Clube" é um quadro que trata de um aspecto do futebol, diferentemente do cabelo e das roupas do Neymar.

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