O Futebol de Rua é, sem sombra de dúvidas, o grande esteio onde está assentado o futebol do país.
Versão mais popular e abagualada do esporte bretão, é por definição edificadora de ccaráter, já que eclusiva de guascas de primeira grandeza.
Por isso mesmo, o Futebol de Rua possui algumas regras para manter sua assência. Veja.
1. A BOLA
A bola poderia ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de
futebol servia, mas as de borracha pura eram as preferidas, quem
controlava uma daquelas até hoje é bom de bola, pulavam muito. No
desespero, usava-se qualquer coisa que rolasse, como uma pedra, uma lata
vazia ou a lancheira do irmão menor.
2. O GOL
O gol poderia ser feito com o que estivesse à mão: tijolos,
paralelepípedos, camisas emboladas, chinelos. A grande área o circulo do
meio campo e a marca de penalte, quando tinha asfalto, eram desenhadas
com um pedaço pedaço de tijolo.
3. O CAMPO
O campo poderia ir até o meio-fio (guia) da calçada, calçada e rua, rua e
a calçada do outro lado e, nos grandes clássicos, o quarteirão inteiro.
4. DURAÇÃO DO JOGO
O jogo normalmente virava em 5 e terminava em 10, podendo durar até a
mãe do dono da bola chamar ou escurecer. Nos jogos noturnos, até alguém
da vizinhança ameaçar chamar a polícia.
5. FORMAÇÃO DOS TIMES
Variava de 3 a 70 jogadores de cada lado (sempre escolhidos pelos dois
“craques” da turma). Ruim (normalmente o dono da bola) ia para o gol.
Perna de Pau jogava na ponta, a esquerda ou a direita, dependendo da
perna que faltava. De óculos era meia-armador, para evitar os choques.
Gordo era beque.
6. O JUIZ
Não tinha juiz.
7. AS INTERRUPÇÕES
No futebol de rua, a partida só poderia ser paralisada em 3 eventualidades:
a) Se a bola caísse no quintal da vizinha chata. Neste caso os jogadores
deveriam esperar 03 minutos pela devolução voluntária da bola. Se isso
não ocorresse, os jogadores deveriam designar voluntários para bater na
porta da casa e solicitar a devolução, primeiro com bons modos e depois
com ameaças de depredação.
b) Quando passava na rua qualquer idoso(a) ou garota gostosa.
c) Quando passavam veículos pesados. De ônibus para cima. Bicicletas e
Fusquinhas podiam ser chutados junto com a bola e, se entrassem, era
Gol.
8. AS SUBSTITUIÇÕES
Eram permitidas substituições nos casos de:
a) Um jogador ser carregado para casa pela orelha para fazer a lição.
b) Um jogador que arrancou o tampão do dedão do pé. Porém, nestes casos,
o mesmo acabava voltando a partida após utilizar aquela água santa da
torneira do quintal de alguém.
c) Em caso de atropelamento.
9. AS PENALIDADES
A única falta prevista nas regras do futebol de rua era atirar o adversário dentro do bueiro.
10. A JUSTIÇA ESPORTIVA
Os casos de litígio eram resolvidos na porrada, prevalecendo a opinião dos mais fortes ou quem pegasse uma pedra antes.
Fonte: Blog do Bola
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domingo, 28 de outubro de 2012
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
As fantasias do Real, por Guido Mantega
Passados quase 20 anos do lançamento do Plano Real, o sucesso da empreitada foi absoluto. As taxas de inflação controlaram-se após mais de 30 anos da doença hiperinflacionária.
Contrastado ainda com os múltiplos planos econômicos e monetários que sucederam-se num turbilhão entre o fim do Regime Militar e a adoção do Real, não restam dúvidas de que todos os objetivos tenham sido alcançados. Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão e Plano Collor, cada um com suas bases teóricas, suas metodologias, seus táticas e estratégias, entre todos restou em comum o retumbante fracasso. Parte da explicação encontra guarida na incapacidade do Governo em reduzir significantemente o déficit orçamentário e realizar um verdadeiro aperto montário. Faltou a percepção de que a Inflação é um fenômeno monetário, e não um aumento de preços.
O Plano Cruzado chegou próximo de algum sucesso, mas em 9 meses, caiu como um castelo de cartas. Os que o sucederam, desnorteados, adotaram estratégias cada vez mais exóticas, perdendo-se em meio à vazias discussões teóricas. Por sua vez, o Plano Verão também teve alguma possibilidade de sucesso, e de certa forma legou ao Plano Real algumas valências, entre elas um corte fiscal mais ousado, a abertura econômica, o Plano Nacional de Desestatização e um ousado plano de reforma do estado.
É possível afirmar que só houveram outros dois casos de hiperinflação na história. A Hiperinflação Alemão dos anos 20, e a Hiperinflação do Zimbawe, até hoje não debelada... Em três décadas, entre 1965 e 1994 nossa moeda acumulou inflação de 1.142.332.741.811.850%. Sim, 1,1 Trilhão porcento. Após sucessivos cortes de zeros nas moedas (alguns deles feitos com um varzeano carimbo do Banco Central em notas antigas), perdeu-se a noção dos malefícios da Inflação e passamos à, bovinamente, conviver com ela... Até 1994...
De qualquer sorte, o tema central do post não é esse, mas a ferrenha oposição do PT e de Lula contra o Plano - e posteriormente, à muitas medidas modernizadoras da Era FHC. Abaixo, segue artigo do então futuro Ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre a adoção do Plano Real, publicado na Folha de São Paulo, em 12 de Junho de 1994.
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Contrastado ainda com os múltiplos planos econômicos e monetários que sucederam-se num turbilhão entre o fim do Regime Militar e a adoção do Real, não restam dúvidas de que todos os objetivos tenham sido alcançados. Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser, Plano Verão e Plano Collor, cada um com suas bases teóricas, suas metodologias, seus táticas e estratégias, entre todos restou em comum o retumbante fracasso. Parte da explicação encontra guarida na incapacidade do Governo em reduzir significantemente o déficit orçamentário e realizar um verdadeiro aperto montário. Faltou a percepção de que a Inflação é um fenômeno monetário, e não um aumento de preços.
O Plano Cruzado chegou próximo de algum sucesso, mas em 9 meses, caiu como um castelo de cartas. Os que o sucederam, desnorteados, adotaram estratégias cada vez mais exóticas, perdendo-se em meio à vazias discussões teóricas. Por sua vez, o Plano Verão também teve alguma possibilidade de sucesso, e de certa forma legou ao Plano Real algumas valências, entre elas um corte fiscal mais ousado, a abertura econômica, o Plano Nacional de Desestatização e um ousado plano de reforma do estado.
É possível afirmar que só houveram outros dois casos de hiperinflação na história. A Hiperinflação Alemão dos anos 20, e a Hiperinflação do Zimbawe, até hoje não debelada... Em três décadas, entre 1965 e 1994 nossa moeda acumulou inflação de 1.142.332.741.811.850%. Sim, 1,1 Trilhão porcento. Após sucessivos cortes de zeros nas moedas (alguns deles feitos com um varzeano carimbo do Banco Central em notas antigas), perdeu-se a noção dos malefícios da Inflação e passamos à, bovinamente, conviver com ela... Até 1994...
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Uma das remarcações varzeanas, de Cruzado para Cruzeiro Novo. |
"06/07/2012
‘As fantasias do real’, por Guido Mantega
PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO EM 12 DE JULHO DE 1994.
GUIDO MANTEGA
Diga-se o que quiser do Plano Real, pelo menos num aspecto ele foi bem sucedido. Conseguiu excitar a imaginação popular e passar a impressão de algo novo e diferente dos planos anteriores.
Os arquitetos do real não pouparam sua imaginação para lançar velhas ideias com aparência de novas, como o Comitê da Moeda, Banco Central independente, ou a dolarização com conversibilidade, mesmo que nada disso tenha sido utilizado.
Chegaram ao ponto de reinventar os reis ou reais, uma nova moeda fantasiada do dólar e garantida por um lastro que não exerce nenhum papel prático, uma vez que o real não é conversível, a não ser o de dar a impressão de que o real vale tanto quanto a moeda norte-americana.
E todo esse barulho para quê? Para vestir com roupagens sofisticadas e muitos truques de ilusão, mais um ajuste tradicional, calcado no corte de gastos sociais, numa contração dos salários, num congelamento do câmbio e outros ativos e, sobretudo, num forte aperto monetário com taxas de juros estratosféricas.
A parte mais imaginativa do plano, que foi a superindexação da economia pela URV, revelou-se a mais perversa, porque passou a ideia de que os salários estavam sendo perfeitamente indexados e resguardados da inflação. Quando, na verdade, foram colocados em desvantagem na conversão para a URV em relação a preços, tarifas e vários outros custos e ainda perderam os reajustes automáticos que a lei salarial lhes garantia.
De primeiro de julho em diante os salários serão pagos em real, que tem a aparência de ser uma moeda indexada, como se tivesse herdado as virtudes da URV, porém é uma moeda desindexada e totalmente vulnerável a corrosão inflacionária do real.
A regra de conversão dos salários pela média e dos preços, tarifas e outros custos pelo pico, matou dois coelhos de uma só cajadada. Reduziu preventivamente a demanda dos assalariados, que poderia aumentar com a queda brusca da inflação e comprimiu os custos salariais, dando uma folga para os preços.
Com esses artifícios, os preços têm chance de apresentar alguma estabilidade por algum tempo, porque desfrutarão de um conjunto de custos estáveis, como salários, tarifas, matérias-primas importadas, aluguéis e tudo o mais que foi congelado por até 12 meses, sem a aparência de estar congelado.
E aqui também a ilusão funcionou, porque vendeu-se a idéia de que o plano não utilizou o congelamento, quando, na verdade, congelou o câmbio, tarifas, aluguéis e contratos. Só não congelou mesmo os preços e deixou os salários no limbo de um semicongelamento, com o ônus de correr atrás do prejuízo que será causado pela inflação do real.
Portanto, mais do que um plano eficiente e bem concebido, o real é um jogo de aparências, que pode durar enquanto não ficar evidente que as contas do governo não vão fechar por causa dos juros altos, que o mercado sozinho não é capaz de conter os preços dos oligopólios sem uma coordenação das expectativas por parte do governo, que os salários não manterão o poder aquisitivo por muito tempo, que o real não vale tanto quanto o dólar.
Mas não se deve subestimar a eficiência das aparências e dos jogos de prestigiação nas artimanhas eleitorais. As remarcações preventivas dos preços, junto com os congelamentos, permitirão uma inflação moderada em julho e, talvez, uma ainda menor em agosto, numa repetição da trajetória dos preços por ocasião da implantação da URV, que subiram muito em fevereiro, na véspera da fase dois, elevando os índices de inflação de março, e depois caíram em abril e só voltaram a subir em maio e junho.
A questão é saber em quanto tempo o grosso da população irá perceber que uma inflação moderada por si só, acompanhada por um aperto monetário e recessão, não melhora sua situação, não cria empregos e, na ausência de uma lei salarial e correções automáticas, pode ser tão deletéria quanto uma inflação de 30% a 40% com indexação."
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quinta-feira, 4 de outubro de 2012
Cover do Dia: Full of Habits, from Black Race
Esse cover entra na lista pelo exótico. É difícil de acreditar, mas eu gosto de Raça Negra. O que não deixa de ser um fato exótico.
Um dos maiores sucessos da banda é o hit "Cheia de Manias", com o famoso refrão escrito pelo Luiz Carlos, um grandioso poeta dos pandeiros e da língua presa e hipertrofiada...
Através do Bruno Moita, fui apresentado à versão do Pagodeversions, uma inusitada tradução para o inglês e tocada só no violão.
Veja agora as versões! Boa diversão.
Cheia de Manias - Raça Negra:
Full of Habits - Pagodeversions:
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Um dos maiores sucessos da banda é o hit "Cheia de Manias", com o famoso refrão escrito pelo Luiz Carlos, um grandioso poeta dos pandeiros e da língua presa e hipertrofiada...
"Di di di di di di ê" CARLOS, Luiz.
Através do Bruno Moita, fui apresentado à versão do Pagodeversions, uma inusitada tradução para o inglês e tocada só no violão.
"Beautiful girl
She know's she's tasty"
Veja agora as versões! Boa diversão.
Cheia de Manias - Raça Negra:
Full of Habits - Pagodeversions:
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domingo, 30 de setembro de 2012
Pelo direito de dirigir alcoolizado
Abaixo, posto um texto do articulista Lew Rockwell, presidente do Ludwig von Mises Institute, nos EUA, traduzido por Leandro Roque, do Instituto Mises Brasil.
O artigo aborta justamente a questão da Lei Seca, um absurdo jurídico sustentado por um Judiciário conivente com um pretenso "interesse social" das leis. Para sempre será conhecida tal lei com a alegoria do Padre, que ao rezar a missa não pode dirigir, pois a liturgia compreende um gole de vinho, gole o suficiente para fazê-lo ASSASSINO aos olhos da lei. Bandido, sem ter cometido crime algum.
Acintosa a lei que permite o uso da lei de forma tirana e anti-democrática, permitindo às autoridades policiais declarar quem está ou não embriagado, ou ainda que perverte os direitos civis obrigando a pessoa à promover provas contra si mesmo.
Enfim, leia abaixo, um importante artigo.
"Em novembro
de 2000, o ex-presidente Clinton ratificou um projeto de lei aprovado
pelo Congresso que ordenava que os estados adotassem novos e mais
onerosos padrões anti-embriaguez ao volante.
Caso não fizessem isso, os
estados iriam deixar de receber fundos federais para suas estradas. É
isso mesmo: o antigo truque da chantagem rodoviária. Obviamente, os
estados criaram novas e mais rigorosas leis contra a embriaguez ao
volante, reagindo como esperado à chantagem federal.
Os federais declararam que um nível de álcool no sangue
de 0,08 por cento ou maior é algo criminoso e deve ser severamente
punido. A Associação Nacional dos Restaurantes está totalmente correta
ao dizer que esse nível é absurdamente baixo. A esmagadora maioria dos
acidentes relacionados à direção embriagada envolve réus contumazes com
um nível de álcool no sangue duas vezes maior do que aquela. Se o padrão
de 0,1 não os detém, um padrão mais baixo também não logrará êxito.
Mas há um ponto mais importante. O que exatamente está
sendo criminalizado? Não é a falta de perícia ao volante. Não é a
destruição da propriedade. Não é o extermínio de uma vida humana por
causa de um comportamento imprudente. O que está sendo criminalizado é
você ter a substância errada no seu sangue. No entanto, é de fato
possível ter essa substância no seu sangue, mesmo ao dirigir, e não
cometer nada que seja sequer semelhante ao que tradicionalmente se
considera um crime.
Qual é a conseqüência de permitir que o governo
criminalize o conteúdo do nosso sangue ao invés das ações em si? Demos
ao governo o poder de tornar a aplicação das leis arbitrária,
imprevisível e dependente do julgamento de policiais e técnicos. De
fato, sem o "bafômetro" governamental, não há como saber ao certo se
estamos infringindo a lei.
É claro, podemos fazer cálculos informais na nossa
cabeça, baseando-se no nosso peso e na quantidade de álcool que
ingerimos durante um certo período de tempo. Mas, na melhor das
hipóteses, essas serão apenas estimativas. Temos de esperar que o
governo nos ministre um teste que nos diga se somos criminosos ou não.
Não é dessa maneira que a lei deve funcionar. Na realidade, isso é uma
forma de tirania.
Por outro lado, a reação imediata é mais ou menos assim:
dirigir alcoolizado tem de ser algo ilegal porque a probabilidade de
causar um acidente aumenta dramaticamente quando você bebe. A resposta é
bem simples: em uma sociedade livre, o governo não deve lidar com
probabilidades. A lei deveria lidar com ações e com ações apenas, e
somente na medida em que estas causarem danos a pessoas ou à
propriedade. Probabilidades são para as seguradoras, que devem
avaliá-las em um ambiente competitivo e voluntário.
É por isso que a campanha contra a perseguição racial é
intuitivamente plausível para muitos: certamente uma pessoa não deveria
ser perseguida somente porque alguns grupos demográficos apresentam uma
taxa de criminalidade maior do que outros. O governo deveria estar
impedindo e punindo crimes em si, não probabilidades e propensões. Da
mesma forma, não deveria haver essa perseguição a motoristas, cuja idéia
assumida é a de que só porque uma pessoa tomou alguns goles ela
automaticamente passa a ser um perigo.
De fato, essa perseguição a motoristas é pior do que a
perseguição racial, porque esta última apenas sugere que a polícia está
mais vigilante, e não que ela esteja necessariamente criminalizando toda
uma raça. Apesar da propaganda, o que está sendo criminalizado no caso
da direção embriagada não é a probabilidade de a pessoa dirigindo se envolver em um acidente, mas, sim, a questão do teor de álcool no sangue. Um motorista bêbado é humilhado e destruído mesmo quando ele não cometeu dano algum.
Obviamente, a execução da lei é um problema sério. Um
número considerável de pessoas saindo de um bar ou de um restaurante
provavelmente seria classificado como motoristas embriagados. Mas não há
como a polícia saber, a menos que eles desconfiem de um carro que
esteja em zigue-zague ou flagrem manobras imprudentes. Mas aí a questão
muda: por que não multar o motorista apenas pela manobra temerária e
deixar o álcool de fora? Por que não?
Para ressaltar o fato de que o que está sendo
criminalizado é a quantidade de bebida ingerida, o governo organiza
essas ultrajantes barreiras policiais, que violam completamente as
liberdades civis, apenas para parar as pessoas e checar seu sangue —
mesmo quando elas não fizeram absolutamente nada. Esse é um ataque
repulsivo à liberdade, um ataque que insinua que o governo tem e deve
ter controle total sobre nós, controle esse que se estende até questões
biológicas internas. Mas de algum modo aceitamos esse ultraje porque já
admitimos a hipótese primeira de que o governo deve nos punir pelo
conteúdo do nosso sangue, e não apenas por nossas ações.
Existem muitos fatores que fazem com que uma pessoa
esteja dirigindo deficientemente. Ela pode estar com os músculos
doloridos após uma sessão de levantamento de peso e apresentar reações
mais lentas. Ela pode estar sonolenta. Ela pode estar de mau humor, ou
irritada por ter brigado com o cônjuge. Será que o governo deveria
ministrar testes de irritação, testes de cansaço, ou testes de dor
muscular? Esse é o próximo passo, e não se surpreenda quando o Congresso
começar a estudar essa questão.
Já está em movimento uma lei que vai proibir o uso de
celulares quando se está dirigindo. Tal absurdidade vem da idéia de que o
governo deve fazer julgamentos sobre o que nós supostamente estamos
propensos a fazer.
E tem mais: algumas pessoas dirigem mais seguramente
após alguns drinques, precisamente pelo fato de elas saberem que seu
tempo de reação foi diminuído e que, por isso, elas devem prestar mais
atenção na segurança. Todos nós conhecemos pessoas que têm uma incrível
capacidade de dirigir perfeitamente bem mesmo após estarem
alcoolicamente irrigadas. Elas deveriam ser liberadas das forças da lei,
e só serem punidas caso de fato fizessem algo errado.
Devemos colocar um fim imediato nesse modismo. Direção
alcoolizada deveria ser legalizada. E, por favor, não me escreva
dizendo: "Fiquei ofendido com sua insensibilidade porque minha mãe foi
morta por um motorista bêbado". Qualquer pessoa responsável pela morte
de uma outra deve responder por homicídio culposo ou assassinato, e deve
ser punida de acordo. Mas é incorreto punir um assassino não por causa
do seu crime mas por causa de alguma consideração biológica. É como
dizer que o atropelador deve ser condenado pois tinha cabelo vermelho.
Assaltantes de banco costumam usar máscaras, mas o crime
que eles cometeram nada tem a ver com a máscara. Da mesma maneira,
motoristas ébrios provocam acidentes, mas motoristas sóbrios também; e
muitos motoristas ébrios não causam acidente algum. A lei deveria se
concentrar em violações contra a pessoa e contra a propriedade, não em
excentricidades científicas como o conteúdo sangüíneo.
Há um último ponto contra o projeto de lei de Clinton.
Trata-se de uma violação dos direitos dos estados. Não há uma
autorização na Constituição que permita ao governo federal legislar o
teor de álcool no sangue. Além disso, a décima emenda deveria ser
suficiente para impedir que o governo o fizesse. A questão da embriaguez
na direção deveria ser retornada aos estados, e então cada estado
deveria liberar os motoristas ébrios das forças da lei."
Fonte: http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=115
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Even Worst: A fina flor da Paródia
O dicionário define paródia como uma "reprodução burlesca de qualquer coisa" ou ainda "imitação humorística de música ou obra literária". É claro que fazer paródia de obras desconhecidas não é nada produtivo. A paródia funciona com material de grande popularidade.
É isso que fez o músico Weird Al. Na esteira do espetacular sucesso de Bad, álbum do Michael Jackson, sucesso de público e fracasso de crítica, que vendeu cerca de 45 milhões de cópias, Yankovic foi mais além: lançou o álbum Even Worst (tradução literal, "ainda pior").
Ele ainda caprichou na capa. Veja abaixo a lata da criança.
Um misturado de paródias e músicas originais. E não foi só do Michael Jackson que se alimentou o Yankovic. Billy Idol, George Harrison e Ritchie Valens, dentre outros, não foram poupados. A música "Fat" é a mais conhecida, pelo refrão "I'm Fat, I'm Fat"... Genial...
Veja a lista de faixas:
Lado A:
1. Fat (paródia de "Bad", de Jackson);
2. Stuck in a Closet with Vanna White (faixa inédita);
3. (This Song's Just) Six Words Long (paródia de "Got my mind set on you", de Harrison);
4. You Make Me (original, imitando o estilo de Oingo Boingo);
5. I Thing I'm a Clone Now (paródia de "I Think We're Alone Now", de Tiffany).
Lado B
1. Lasagna (paródia de "La Bamba", de Los Lobos);
2. Melanie (faixa inédita);
3. Alimony (paródia de "Mony Mony", de Idol);
4. Velvet Elvis (original, imitando o estilo de The Police);
5. Twister (original, imitando o estilo de Beastie Boys);
6. Good Old Days (original, imitando o estilo de James Taylor).
Não perca abaixo o álbum completo direto do Youtube.
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É isso que fez o músico Weird Al. Na esteira do espetacular sucesso de Bad, álbum do Michael Jackson, sucesso de público e fracasso de crítica, que vendeu cerca de 45 milhões de cópias, Yankovic foi mais além: lançou o álbum Even Worst (tradução literal, "ainda pior").
Ele ainda caprichou na capa. Veja abaixo a lata da criança.
Um misturado de paródias e músicas originais. E não foi só do Michael Jackson que se alimentou o Yankovic. Billy Idol, George Harrison e Ritchie Valens, dentre outros, não foram poupados. A música "Fat" é a mais conhecida, pelo refrão "I'm Fat, I'm Fat"... Genial...
Veja a lista de faixas:
Lado A:
1. Fat (paródia de "Bad", de Jackson);
2. Stuck in a Closet with Vanna White (faixa inédita);
3. (This Song's Just) Six Words Long (paródia de "Got my mind set on you", de Harrison);
4. You Make Me (original, imitando o estilo de Oingo Boingo);
5. I Thing I'm a Clone Now (paródia de "I Think We're Alone Now", de Tiffany).
Lado B
1. Lasagna (paródia de "La Bamba", de Los Lobos);
2. Melanie (faixa inédita);
3. Alimony (paródia de "Mony Mony", de Idol);
4. Velvet Elvis (original, imitando o estilo de The Police);
5. Twister (original, imitando o estilo de Beastie Boys);
6. Good Old Days (original, imitando o estilo de James Taylor).
Não perca abaixo o álbum completo direto do Youtube.
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sexta-feira, 28 de setembro de 2012
O Colapso da União Soviética
Reproduzo abaixo o excelente artigo de Yedor Gaigar, economista soviético, traduzido pelo Alexsander Rosa, blogueiro cujo trabalho pode ser acesssado clicando aqui.
O paper aborda as causas econômicas do colapso do então Bloco Soviético, demonstrando dentre outras coisas a ainda atual problemática do Cálculo Econômico, teoria através da qual Mises demonstrou a lógica do inevitávei colapso das economias comunistas.
Leia e deixe seu comentário.
Tradução do artigo The Soviet Collapse, de Yegor Gaidar, publicado em 19 de abril de 2007.
O título do meu último livro [N.T. o livro de Yegor Gaidar], que eu gostaria de discutir hoje, pode ser traduzido como "O Colapso de um Império: Lições para a Rússia Moderna" (The Collapse of an Empire: Lessons for Modern Russia) [1]. Ele relata a história dos últimos anos da União Soviética. Mas quando escrevi sobre a URSS, tinha em mente os dilemas da Rússia contemporânea.
Há vários fatores que me fizeram escrever este livro. O primeiro foi o aumento nos preços do petróleo, que em termos reais começaram a se aproximar dos níveis do final da era de Brezhnev. O segundo foi a tendência perturbadora em mitificar o período final da URSS na atual sociedade russa e em sua cultura popular. Estes mitos incluem a crença que, apesar dos problemas, a URSS era uma superpotência mundial dinâmica até que usurpadores iniciaram reformas desastrosas. Ao menos 80% dos russos estão convencidos desta interpretação incorreta da história.
Historicamente tais mitos têm um precedente perigoso: a Alemanha no período entre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra. Na época a lenda dizia que a Alemanha não tinha sido derrotada na guerra, mas "esfaqueada pelas costas" pelos judeus e pelos socialistas. De certo modo, o governo alemão da época tem sua parcela de culpa ao não publicar material sobre o que realmente aconteceu antes e depois da I Guerra Mundial.
Similarmente, o acesso a documentos sobre o colapso soviético está se tornando cada vez mais restrito, mas ainda podemos tornar públicos vários deles que podem explicar corretamente o que aconteceu ao nosso país.
Para ser sincero, eu jamais pensei que o livro -- metade feito de tabelas, gráficos e cópias de documentos oficiais -- pudesse ser um best-seller em meu país. Mas ele é, o que nos dá uma ponta de esperança.
OS GRÃOS
De maneira simplificada, a história do colapso da União Soviética pode ser contada como uma história de grãos e petróleo. Sobre os grãos, o ponto crucial que selou o destino da URSS foi o debate econômico de 1928-29, quando a discussão centrou-se no que mais tarde se chamaria de "Caminho Chinês" de desenvolvimento.
Por uma série de importantes indicadores sociais e econômicos, a URSS daquela época e a China do final dos anos 70 seguiram caminhos semelhantes (Figura 1). Na época, o líder do governo soviético, Aleksei Rykov, e o líder ideológico do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Nikolai Bukharin, defendiam a idéia de um caminho que incluía preservar tanto a agricultura privada quanto o mercado, assegurando estabilidade financeira -- mas mantendo o controle político do partido.
A
liderança soviética escolheu outro caminho. A solução preferida por
Joseph Stalin foi a desapropriação de terras dos camponeses, a
coletivização forçada e a coleta de grãos. Bukharin e Rykov
essencialmente disseram: "Num país de camponeses é impossível coletar grãos à força. Haverá guerra civil". Stalin respondeu: "Farei assim mesmo".
O resultado da política agrícola desastrosa implementada entre o final dos anos 20 e o início dos anos 50 foi a maior queda de produtividade experimentada por um grande país no Século XX. O problema-chave enfrentado pela URSS foi bem expressado na carta enviada por Nikita Khrushchev a seus colegas de liderança do partido. A carta dizia: "Nos últimos 15 anos não tivemos aumento na produção de grãos. Enquanto isso, estamos vivendo um aumento radical na população urbana. Como podemos resolver esse problema?"
Mais uma vez, discussões sérias surgiram entre os líderes soviéticos no início dos anos 1950, resultando em duas posições. A primeira era tentar melhorar a situação nas regiões agrícolas fora do fértil "Cinturão de Solo Negro", ao sul da Rússia. A outra idéia era resolver o problema usando o sistema de planejamento socialista: grandes projetos com uma concentração de recursos. Naturalmente, havia dúvidas se esta estratégia causaria flutuações ainda maiores no longo prazo.
Mas estas considerações foram ignoradas e a estratégia de aumentar drasticamente a área cultivada rendeu um sucesso temporário. De meados dos anos 1950 até o início dos anos 1960, a quantidade de grãos produzida aumentou significativamente. O problema era a quantidade limitada de terra cultivável e o crescimento contínuo das populações das grandes cidades. Assim, ainda nos anos 1960, as limitações deste plano tornaram-se evidentes.
Em 1963, Nikita Khrushchev enviou uma carta aos líderes do bloco soviético informando-os que não seria mais capaz de fornecer grãos. Naquele ano, a URSS comprou 12 milhões de toneladas de grãos, gastando para isso 1/3 das reservas de ouro do país. Khrushchev comentou: "O poder soviético não pode tolerar mais a vergonha que tivemos que passar" [2].
A produção estatal de grãos se estabilizou em 65 milhões de toneladas/ano dos anos 60 até os anos 80 (Figura 2). Isso era insuficiente para alimentar uma população que continuava crescendo. A Rússia, que antes da I Guerra Mundial era o maior exportador de grãos do mundo, passou a ser o maior importador.
Mikhail Gorbachev disse num encontro do CPSU: "Estamos comprando grãos porque não podemos sobreviver sem eles"
[3]. Havia nações, como o Japão, que também importavam grãos e outros
produtos agrícolas. Ao contrário da URSS, no entanto, esses países
podiam exportar produtos manufaturados.
Porque a URSS não seguia o mesmo caminho? Porque a "industrialização socialista" resultou numa indústria soviética incapaz de vender produtos manufaturados. Nikolai Ryzhkov, presidente do Conselho de Ministros da URSS, expressou esse sentimento claramente em outro encontro de lideranças: "Ninguém compra nossa produção de máquinas. É por isso que estamos exportando apenas matéria-prima" [4].
O PETRÓLEO
As lideranças soviéticas deram sorte: exatamente ao mesmo tempo em que os problemas de falta de grãos surgiram, grandes campos de petróleo foram descobertos na região de Tyumen, na Sibéria.
Já em 1970, a Sibéria era considerada uma grande produtora de petróleo. Durante os próximos 12 anos a URSS aumentou a produção em 12 vezes. Os especialistas em petróleo avisaram o governo que aumentar a produção tão rápido poderia trazer problemas, mas não havia escolha.
Em 1975 a URSS começou a ter problemas com a produção: seria preciso fazer enormes investimentos para manter o mesmo nível de produção (Figura 3). No entanto, a União Soviética teve a sorte de conseguir preços excepcionalmente altos por seu petróleo a partir em meados dos anos 1970 (Crise do Petróleo de 1974).
O
mercado de petróleo é peculiar por causa dos níveis variáveis de
elasticidade da oferta e da procura tanto no curto quanto no longo
prazo. As flutuações de preço são enormes (Figura 4). Há um conceito
econômico muito bem conhecido chamado "choque externo". Nos
EUA, a maior economia do mundo, o maior choque externo dos últimos 50
anos ocorreu em 1974, quando os preços do petróleo quadruplicaram e as
Relações de Troca pioraram em 15%. Para a URSS, os preços
estratoféricos do petróleo tiveram um impacto muito mais substancial no
PIB, que podia ser medido em centenas de pontos percentuais. Começava
ali o colapso do Império Soviético.
Ambições
imperialistas baseadas em recursos tão instáveis não foram
exclusividade da URSS. A "maldição dos recursos" foi bem analisada pela
Escola de Salamanca com a experiência da Espanha nos Séculos XVI e XVII.
A influência nos fluxos de ouro e prata das Américas para a Espanha é
comparável ao impacto do faturamento com petróleo e gás da URSS (Figura
5). O Império Espanhol, sem perder uma única batalha em 50 anos, perdeu
todas suas conquistas fora dos Pirineus, incluindo Portugal, e quase
perdeu Aragón e Catalunha. Em 1989, também sem perder nos campos de
batalha por 50 anos, a União Soviética perdeu o controle sobre o leste
da Europa.
No
final dos anos 1970 e início dos anos 1980, no entanto, os líderes
soviéticos não estavam preparados intelectualmente para tirar lições da
Escola de Salamanca. Com mais dinheiro,
a URSS resolveu invadir o Afeganistão. A guerra mudou radicalmente a
situação geopolítica do Oriente Médio. Em 1974 a Arábia Saudita decidiu
impor um embargo no suprimento de petróleo aos Estados Unidos, mas em
1979 pediu proteção aos EUA, porque entendeu que a invasão do
Afeganistão seria o início de uma tentativa soviética de controlar o
petróleo do Oriente Médio.
O INÍCIO DO FIM
A início do colapso da União Soviética pode ser considerado o dia 13/09/85. Nesta data o Ministro do Petróleo da Arábia Saudita decidiu alterar radicalmente a política de preços do petróleo. Os sauditas "liberaram" o preço do barril, que tinha passado dos US$ 70 em 1980. Em pouco tempo estava menos de US$ 30.
Como resultado, a URSS perdeu cerca de US$ 20 bilhões, dinheiro sem o qual o país simplesmente não podia sobreviver. A produção de petróleo de 1985 era menos da metade da produção de 1975. A liderança soviética foi confrontada com uma difícil decisão sobre como se ajustar. Havia três opções, ou uma combinação de três opções, disponíveis.
Primeiro, dissolver o "império soviético" e efetivamente parar de subsidiar os países do bloco socialista, cobrando em dinheiro por petróleo e gás. Esta opção, no entanto, envolvia convencer a liderança soviética em 1985 a negar completamente os resultados da II Guerra Mundial. Na verdade, o líder que propusesse a idéia no Comitê Central do CPSU, na época, correria o risco de perder o cargo.
Segundo, reduzir drasticamente as importações soviéticas de comida em US$ 20 bilhões anuais. Em termos práticos, esta opção significaria a introdução de racionamento de comida em níveis similares aos vigentes durante a II Guerra Mundial. A liderança soviética sabia as conseqüências: a URSS não duraria um mês. Esta idéia nunca foi seriamente discutida.
Terceiro, implementar cortes radicais no complexo industrial-militar. Com esta opção, no entanto, a liderança soviética correria o risco de sérios conflitos com elites regionais e industriais, pois muitas cidades da URSS dependiam exclusivamente do complexo. Esta opção nunca foi seriamente considerada.
Incapaz de perceber qualquer uma das soluções acima, o governo decidiu adotar uma política de efetivamente ignorar o problema na esperança que ele desaparecesse. Ao invés de implementar reformas, a URSS começou a tomar empréstimos do exterior enquanto tinha crédito. De 1985 a 1988 o país fez pesados empréstimos, mas em 1989 a economia soviética parou.
AS DÍVIDAS
O dinheiro simplesmente desapareceu. Em 1989 a URSS tentou formar um consórcio de 300 bancos para fornecer um grande empréstimo, mas apenas 5 toparam e com isso o valor seria 20 vezes menor que o necessário. O governo recebeu um aviso do Deutsche Bank de que os fundos jamais viriam de bancos privados. Se a URSS precisava do dinheiro, teria que começar a negociar com governos do ocidente sobre créditos "políticos".
Em 1985, a idéia de que a URSS começaria a aceitar dinheiro em troca de concessões políticas soaria absurda. Em 1989 ela se tornou realidade, e Gorbachev entendeu a necessidade de pelo menos US$ 100 bilhões do Ocidente para movimentar a economia soviética. De acordo com o Presidente do Comitê de Planejamento Central, Yury Maslyukov:
Quando a situação da URSS é examinada do ponto de vista financeiro e contábil, as políticas de Gorbachev na época são muito mais fáceis de entender (Figura 6). Os empréstimos de governo para governo são feitos com condições rígidas. Por exemplo, se os militares soviéticos tivessem esmagado as manifestações do Partido Solidariedade em Varsóvia, a URSS não teria recebido os US$ 100 bilhões do Ocidente. O bloco socialista era estável enquanto a URSS tinha a prerrogativa de usar tanta força quanto necessária para reestabelecer o controle, como demonstrado na Alemanha, Hungria e Tchecoslováquia. Mas em 1989, as elites polonesas entenderam que os tanques soviéticos não seriam usados para defender o governo comunista.
Gorbachev
não precisou dizer ao presidente George H. W. Bush, no Encontro de
Malta (1989), que não usaria a força. Isso já estava evidente na época.
Seis meses depois do encontro não havia mais nenhum governo comunista no
Leste Europeu.
Claro, o Ocidente estava cauteloso sobre apoiar movimentos de independência dentro da URSS. Quanto as autoridades da Lituânia foram à embaixada dos EUA em Moscou pedir ajuda, a resposta foi negativa. Quando os soviéticos tentaram usar a força para reestabelecer o controle nos Bálticos em 1991, no entanto, a reação do Ocidente -- incluindo os EUA -- foi bem direta: Faça como quiser, o país é de vocês. Mas se quiserem usar a força, esqueçam o empréstimo de US$ 100 bilhões".
Quais eram as opções de Gorbachev na época? Ele não podia dissolver o Império Soviético facilmente; os conservadores eram fortemente contra. Ele também não podia impedir a gradual dissolução do Império sem uso massivo de força. Mas ao usar a força ele perderia os recursos necessários do Ocidente, sem os quais Gorbachev não tinha chance de ficar no poder.
Essa charada era a origem do dilema de Gorbachev, forçando-o a fazer um acordo com os militares e com Boris Yeltsin. Os linha-dura da KGB e do Exército perceberam Gorbachev como fraco e deram um Golpe de Estado em agosto de 1991. Em 3 dias ficou claro que o plano havia falhado, pois mesmo se eles achassem uma divisão disposta a esmagar as passeatas contra os golpistas, isso faria os grãos aparecer? Iria o Ocidente dar rapidamente os US$ 100 bilhões?
Em 22 de agosto de 1991 a história da URSS chegou ao fim. Um Estado que não controla suas fronteiras ou forças militares nem tem fonte de receita simplesmente não consegue existir. O documento que efetivamente concluiu a história da URSS é uma carta do Vneshekonombank (Banco Estatal Soviético) informando que o Estado Soviético não tinha um centavo nos seus cofres [7].
--
[1] Yegor Gaidar, Gibel' Imperii: Uroki dlya sovremennoi Rossii [The Collapse of an Empire: Lessons for Modern Russia] (Moscow: Rossiyskaya Politicheskaya Entsiklopedia, 2006), disponível em www.iet.ru/publication.php?folder-id=44&publication-id=8912.
[2] "Presidência do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). 1954-1964: Registros dos Encontros. Notas taquigráficas. Diretrizes.". 2ª Ed., v.1. p. 778.
[3] "Notas taquigráficas do Plenário do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Janeiro 27-28, 1987". The Russian State Archive of Contemporary History (RGANI), fond [record group] 2, opis' [series] 5, delo [file] 45, list [page] 3.
[4] Nikolai Ryzhkov, Desyat' let velikih potryaseniy [Ten Years That Shook the World] (Moscow: Kniga. Prosveshchenie. Miloserdie, 1995), 229.
[5] Notas taquigráficas do encontro no escritório do Chefe do Conselho de Ministros da URSS, Nikolai Ryzhkov. "O postavke dlya gosudarstva nefti, gazovogo kondensata i nefteproduktov v 1991 godu." [Regarding the Deliveries for the State of Oil, Gas Condensate, and Oil Products in 1991]. State Archive of the Russian Federation. fond [record group] 5446, opis' [series] 162, delo [file] 379, list [page] 131-137, 143-149.
[6] Ibid.
[7] Memorando de A. P. Nosko, Chefe do Vneshekonombank [Banco Estatal da URSS] para o Comitê Estatal de Gerência de Operações da Economia Nacional da URSS. "Ob ischepanii likvidnykh valyutnykh resursov" [Sobre o Esgotamento de Recursos Líquidos em Moeda]. 26 de novembro de 1991. Arquivo Estatal da Federação Russa. fond [record group] 5446, opis' [series] 163, delo [file] 1504, list [page] 11-12.
Fonte: http://alexrosa.blogspot.com.br/2007/08/o-colapso-da-urss.html
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O paper aborda as causas econômicas do colapso do então Bloco Soviético, demonstrando dentre outras coisas a ainda atual problemática do Cálculo Econômico, teoria através da qual Mises demonstrou a lógica do inevitávei colapso das economias comunistas.
Leia e deixe seu comentário.
Tradução do artigo The Soviet Collapse, de Yegor Gaidar, publicado em 19 de abril de 2007.
O título do meu último livro [N.T. o livro de Yegor Gaidar], que eu gostaria de discutir hoje, pode ser traduzido como "O Colapso de um Império: Lições para a Rússia Moderna" (The Collapse of an Empire: Lessons for Modern Russia) [1]. Ele relata a história dos últimos anos da União Soviética. Mas quando escrevi sobre a URSS, tinha em mente os dilemas da Rússia contemporânea.
Há vários fatores que me fizeram escrever este livro. O primeiro foi o aumento nos preços do petróleo, que em termos reais começaram a se aproximar dos níveis do final da era de Brezhnev. O segundo foi a tendência perturbadora em mitificar o período final da URSS na atual sociedade russa e em sua cultura popular. Estes mitos incluem a crença que, apesar dos problemas, a URSS era uma superpotência mundial dinâmica até que usurpadores iniciaram reformas desastrosas. Ao menos 80% dos russos estão convencidos desta interpretação incorreta da história.
Historicamente tais mitos têm um precedente perigoso: a Alemanha no período entre a Primeira Guerra Mundial e a Segunda Guerra. Na época a lenda dizia que a Alemanha não tinha sido derrotada na guerra, mas "esfaqueada pelas costas" pelos judeus e pelos socialistas. De certo modo, o governo alemão da época tem sua parcela de culpa ao não publicar material sobre o que realmente aconteceu antes e depois da I Guerra Mundial.
Similarmente, o acesso a documentos sobre o colapso soviético está se tornando cada vez mais restrito, mas ainda podemos tornar públicos vários deles que podem explicar corretamente o que aconteceu ao nosso país.
Para ser sincero, eu jamais pensei que o livro -- metade feito de tabelas, gráficos e cópias de documentos oficiais -- pudesse ser um best-seller em meu país. Mas ele é, o que nos dá uma ponta de esperança.
OS GRÃOS
De maneira simplificada, a história do colapso da União Soviética pode ser contada como uma história de grãos e petróleo. Sobre os grãos, o ponto crucial que selou o destino da URSS foi o debate econômico de 1928-29, quando a discussão centrou-se no que mais tarde se chamaria de "Caminho Chinês" de desenvolvimento.
Por uma série de importantes indicadores sociais e econômicos, a URSS daquela época e a China do final dos anos 70 seguiram caminhos semelhantes (Figura 1). Na época, o líder do governo soviético, Aleksei Rykov, e o líder ideológico do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Nikolai Bukharin, defendiam a idéia de um caminho que incluía preservar tanto a agricultura privada quanto o mercado, assegurando estabilidade financeira -- mas mantendo o controle político do partido.

O resultado da política agrícola desastrosa implementada entre o final dos anos 20 e o início dos anos 50 foi a maior queda de produtividade experimentada por um grande país no Século XX. O problema-chave enfrentado pela URSS foi bem expressado na carta enviada por Nikita Khrushchev a seus colegas de liderança do partido. A carta dizia: "Nos últimos 15 anos não tivemos aumento na produção de grãos. Enquanto isso, estamos vivendo um aumento radical na população urbana. Como podemos resolver esse problema?"
Mais uma vez, discussões sérias surgiram entre os líderes soviéticos no início dos anos 1950, resultando em duas posições. A primeira era tentar melhorar a situação nas regiões agrícolas fora do fértil "Cinturão de Solo Negro", ao sul da Rússia. A outra idéia era resolver o problema usando o sistema de planejamento socialista: grandes projetos com uma concentração de recursos. Naturalmente, havia dúvidas se esta estratégia causaria flutuações ainda maiores no longo prazo.
Mas estas considerações foram ignoradas e a estratégia de aumentar drasticamente a área cultivada rendeu um sucesso temporário. De meados dos anos 1950 até o início dos anos 1960, a quantidade de grãos produzida aumentou significativamente. O problema era a quantidade limitada de terra cultivável e o crescimento contínuo das populações das grandes cidades. Assim, ainda nos anos 1960, as limitações deste plano tornaram-se evidentes.
Em 1963, Nikita Khrushchev enviou uma carta aos líderes do bloco soviético informando-os que não seria mais capaz de fornecer grãos. Naquele ano, a URSS comprou 12 milhões de toneladas de grãos, gastando para isso 1/3 das reservas de ouro do país. Khrushchev comentou: "O poder soviético não pode tolerar mais a vergonha que tivemos que passar" [2].
A produção estatal de grãos se estabilizou em 65 milhões de toneladas/ano dos anos 60 até os anos 80 (Figura 2). Isso era insuficiente para alimentar uma população que continuava crescendo. A Rússia, que antes da I Guerra Mundial era o maior exportador de grãos do mundo, passou a ser o maior importador.

Porque a URSS não seguia o mesmo caminho? Porque a "industrialização socialista" resultou numa indústria soviética incapaz de vender produtos manufaturados. Nikolai Ryzhkov, presidente do Conselho de Ministros da URSS, expressou esse sentimento claramente em outro encontro de lideranças: "Ninguém compra nossa produção de máquinas. É por isso que estamos exportando apenas matéria-prima" [4].
O PETRÓLEO
As lideranças soviéticas deram sorte: exatamente ao mesmo tempo em que os problemas de falta de grãos surgiram, grandes campos de petróleo foram descobertos na região de Tyumen, na Sibéria.
Já em 1970, a Sibéria era considerada uma grande produtora de petróleo. Durante os próximos 12 anos a URSS aumentou a produção em 12 vezes. Os especialistas em petróleo avisaram o governo que aumentar a produção tão rápido poderia trazer problemas, mas não havia escolha.
Em 1975 a URSS começou a ter problemas com a produção: seria preciso fazer enormes investimentos para manter o mesmo nível de produção (Figura 3). No entanto, a União Soviética teve a sorte de conseguir preços excepcionalmente altos por seu petróleo a partir em meados dos anos 1970 (Crise do Petróleo de 1974).



O INÍCIO DO FIM
A início do colapso da União Soviética pode ser considerado o dia 13/09/85. Nesta data o Ministro do Petróleo da Arábia Saudita decidiu alterar radicalmente a política de preços do petróleo. Os sauditas "liberaram" o preço do barril, que tinha passado dos US$ 70 em 1980. Em pouco tempo estava menos de US$ 30.
Como resultado, a URSS perdeu cerca de US$ 20 bilhões, dinheiro sem o qual o país simplesmente não podia sobreviver. A produção de petróleo de 1985 era menos da metade da produção de 1975. A liderança soviética foi confrontada com uma difícil decisão sobre como se ajustar. Havia três opções, ou uma combinação de três opções, disponíveis.
Primeiro, dissolver o "império soviético" e efetivamente parar de subsidiar os países do bloco socialista, cobrando em dinheiro por petróleo e gás. Esta opção, no entanto, envolvia convencer a liderança soviética em 1985 a negar completamente os resultados da II Guerra Mundial. Na verdade, o líder que propusesse a idéia no Comitê Central do CPSU, na época, correria o risco de perder o cargo.
Segundo, reduzir drasticamente as importações soviéticas de comida em US$ 20 bilhões anuais. Em termos práticos, esta opção significaria a introdução de racionamento de comida em níveis similares aos vigentes durante a II Guerra Mundial. A liderança soviética sabia as conseqüências: a URSS não duraria um mês. Esta idéia nunca foi seriamente discutida.
Terceiro, implementar cortes radicais no complexo industrial-militar. Com esta opção, no entanto, a liderança soviética correria o risco de sérios conflitos com elites regionais e industriais, pois muitas cidades da URSS dependiam exclusivamente do complexo. Esta opção nunca foi seriamente considerada.
Incapaz de perceber qualquer uma das soluções acima, o governo decidiu adotar uma política de efetivamente ignorar o problema na esperança que ele desaparecesse. Ao invés de implementar reformas, a URSS começou a tomar empréstimos do exterior enquanto tinha crédito. De 1985 a 1988 o país fez pesados empréstimos, mas em 1989 a economia soviética parou.
AS DÍVIDAS
O dinheiro simplesmente desapareceu. Em 1989 a URSS tentou formar um consórcio de 300 bancos para fornecer um grande empréstimo, mas apenas 5 toparam e com isso o valor seria 20 vezes menor que o necessário. O governo recebeu um aviso do Deutsche Bank de que os fundos jamais viriam de bancos privados. Se a URSS precisava do dinheiro, teria que começar a negociar com governos do ocidente sobre créditos "políticos".
Em 1985, a idéia de que a URSS começaria a aceitar dinheiro em troca de concessões políticas soaria absurda. Em 1989 ela se tornou realidade, e Gorbachev entendeu a necessidade de pelo menos US$ 100 bilhões do Ocidente para movimentar a economia soviética. De acordo com o Presidente do Comitê de Planejamento Central, Yury Maslyukov:
"Entendemos que a única fonte de dinheiro é o petróleo. Se não tomarmos todas as decisões necessárias agora, ano que vem pode ser pior que nossos piores pesadelos. Os países socialistas podem ficar em situação crítica. Tudo isso nos levará a um colapso, e não somente nós, mas todo o nosso sistema."[5]Nesse meio tempo, a URSS começava a ter grande escassez de comida e entregas de grãos não estavam sendo feitas a grandes cidades. Um dos assessores mais próximos de Gorbachev, Anatoly Cherniayev, descreveu a situação em Moscou em Março de 1991:
"Se os grãos não puderem ser obtidos em algum lugar, uma fome em massa virá em Junho. Moscou nunca viu nada igual em sua história, nem nos piores anos" [6]O COLAPSO
Quando a situação da URSS é examinada do ponto de vista financeiro e contábil, as políticas de Gorbachev na época são muito mais fáceis de entender (Figura 6). Os empréstimos de governo para governo são feitos com condições rígidas. Por exemplo, se os militares soviéticos tivessem esmagado as manifestações do Partido Solidariedade em Varsóvia, a URSS não teria recebido os US$ 100 bilhões do Ocidente. O bloco socialista era estável enquanto a URSS tinha a prerrogativa de usar tanta força quanto necessária para reestabelecer o controle, como demonstrado na Alemanha, Hungria e Tchecoslováquia. Mas em 1989, as elites polonesas entenderam que os tanques soviéticos não seriam usados para defender o governo comunista.

Claro, o Ocidente estava cauteloso sobre apoiar movimentos de independência dentro da URSS. Quanto as autoridades da Lituânia foram à embaixada dos EUA em Moscou pedir ajuda, a resposta foi negativa. Quando os soviéticos tentaram usar a força para reestabelecer o controle nos Bálticos em 1991, no entanto, a reação do Ocidente -- incluindo os EUA -- foi bem direta: Faça como quiser, o país é de vocês. Mas se quiserem usar a força, esqueçam o empréstimo de US$ 100 bilhões".
Quais eram as opções de Gorbachev na época? Ele não podia dissolver o Império Soviético facilmente; os conservadores eram fortemente contra. Ele também não podia impedir a gradual dissolução do Império sem uso massivo de força. Mas ao usar a força ele perderia os recursos necessários do Ocidente, sem os quais Gorbachev não tinha chance de ficar no poder.
Essa charada era a origem do dilema de Gorbachev, forçando-o a fazer um acordo com os militares e com Boris Yeltsin. Os linha-dura da KGB e do Exército perceberam Gorbachev como fraco e deram um Golpe de Estado em agosto de 1991. Em 3 dias ficou claro que o plano havia falhado, pois mesmo se eles achassem uma divisão disposta a esmagar as passeatas contra os golpistas, isso faria os grãos aparecer? Iria o Ocidente dar rapidamente os US$ 100 bilhões?
Em 22 de agosto de 1991 a história da URSS chegou ao fim. Um Estado que não controla suas fronteiras ou forças militares nem tem fonte de receita simplesmente não consegue existir. O documento que efetivamente concluiu a história da URSS é uma carta do Vneshekonombank (Banco Estatal Soviético) informando que o Estado Soviético não tinha um centavo nos seus cofres [7].
--
[1] Yegor Gaidar, Gibel' Imperii: Uroki dlya sovremennoi Rossii [The Collapse of an Empire: Lessons for Modern Russia] (Moscow: Rossiyskaya Politicheskaya Entsiklopedia, 2006), disponível em www.iet.ru/publication.php?folder-id=44&publication-id=8912.
[2] "Presidência do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). 1954-1964: Registros dos Encontros. Notas taquigráficas. Diretrizes.". 2ª Ed., v.1. p. 778.
[3] "Notas taquigráficas do Plenário do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética (PCUS), Janeiro 27-28, 1987". The Russian State Archive of Contemporary History (RGANI), fond [record group] 2, opis' [series] 5, delo [file] 45, list [page] 3.
[4] Nikolai Ryzhkov, Desyat' let velikih potryaseniy [Ten Years That Shook the World] (Moscow: Kniga. Prosveshchenie. Miloserdie, 1995), 229.
[5] Notas taquigráficas do encontro no escritório do Chefe do Conselho de Ministros da URSS, Nikolai Ryzhkov. "O postavke dlya gosudarstva nefti, gazovogo kondensata i nefteproduktov v 1991 godu." [Regarding the Deliveries for the State of Oil, Gas Condensate, and Oil Products in 1991]. State Archive of the Russian Federation. fond [record group] 5446, opis' [series] 162, delo [file] 379, list [page] 131-137, 143-149.
[6] Ibid.
[7] Memorando de A. P. Nosko, Chefe do Vneshekonombank [Banco Estatal da URSS] para o Comitê Estatal de Gerência de Operações da Economia Nacional da URSS. "Ob ischepanii likvidnykh valyutnykh resursov" [Sobre o Esgotamento de Recursos Líquidos em Moeda]. 26 de novembro de 1991. Arquivo Estatal da Federação Russa. fond [record group] 5446, opis' [series] 163, delo [file] 1504, list [page] 11-12.
Fonte: http://alexrosa.blogspot.com.br/2007/08/o-colapso-da-urss.html
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quarta-feira, 26 de setembro de 2012
Os 10 Mandamentos do Futebol
Os 10 Mandamentos do Futebol
1-
Nunca chame o craque, sob pena de blasfêmia, de "atleta diferenciado".
Guarde o "diferenciado" para adjetivar maratonistas de patinação no gelo
ou jovens cantores dos Canarinhos de Petrópolis.
2-
O ruim de bola deve ser chamado preferencialmente de cabeça de bagre,
pereba e quejandos. Corno e filho da puta se admitem nos momentos mais
dramáticos - passe errado, gol perdido, frangaço... Guarde o "atleta
limitado" para se referir a alguém que não consegue mais despertar o
bilau na hora do vuco-vuco. Atleta, aliás, é quem faz atletismo. Quem
joga bola é jogador e ponto.
3-
Malditos os que transformam o templo do jogo em "arena multiuso", com
ingressos caros, bistrô, loja de conveniência, espaço gourmet e outras
babaquices. Futebol se joga em estádios com arquibancadas de madeira,
cimento ou com o público confortavelmente instalado em barrancos.
Árvores frondosas também são permitidas nos campos, desde que, nos dias
de grande público, se transformem em camarotes reversíveis.
4-
Jogador reserva não é "peça de reposição". A expressão - queridinha de
técnicos e comentaristas - é mais adequada para se referir a escravos
comprados no Brasil colonial, comumente conhecidos como peças. Admite-se
também o uso em oficinas de automóveis. Um cabo de embreagem é um bom
exemplo de peça de reposição.
5-
Que a danação seja eterna para os que entregam taças em teatros, com
jogadores e dirigentes de terno e gravata e a apresentação de atores
globais que não sabem a diferença entre uma bola e uma ogiva nuclear.
Taça se entrega no campo. Só será admitido fazer isso no dia em que a
cerimônia de entrega do Oscar for no estádio Ítalo Del Cima, em Campo
Grande.
6- É direito sagrado do torcedor invadir o campo para comemorar a conquista do clube.
7-
Pai e mãe serão honrados. Abre-se uma exceção para a genitora de Sua
senhoria, o juiz da partida. Recomendo aos que não querem ouvir
palavrões no campo que procurem assistir aos funerais de um papa. Os
cantos gregorianos são do maior respeito.
8-
É direito do torcedor beber nos estádios a água benta que melhor lhe
conduzir ao contato com o sagrado. Comércio informal nos arredores - com
churrasquinho, cachorro quente, laranja lima e que tais - sempre é
benvindo.
9-
Não profanarás a camisa do clube com propagandas de cursos de inglês,
bancos, funerárias, produtos de limpeza, organismos internacionais de
combate à fome ou coisa que o valha.
10-
Há que se respeitar o torcedor sobre todas as coisas - e para isso é
suficiente não tratá-lo como cliente de empresa de telefonia celular ou
platéia de recital de música de câmara. Amém.
Luiz Antonio Simas - Blog Histórias Brasileiras
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