segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Quando Silenciam os Canhões

Há não muitos meses a Grande Guerra estourava entre as grandes potências europeias. As tropas inimigas, entrincheiradas frente à frente por centenas de quilômetros, eram separadas por pedaço de chão chamado irônicamente de "Terra de Ninguém".


Acostumados e preparados para a guerra de manobras, à moda napoleônica, nenhum dos lados conseguia obter vantagem decisiva sobre o adversário, de capacidade militar semelhante. Os morteiros, obuses e canhões lançavam ao vento uma obscura e sombria sinfonia. As metralhadoras avisavam aos inimigos: não ousem levantar suas cabeças para enxergar o outro lado.

Para além do nacionalismo que nutriu ódios mútuos entre as grandes potências, provavelmente os soldados não entendiam bem porque estavam se batendo. Nenhum deles conhecia Gavrilo Princip e tampouco o Arquiduque Francisco Fernando. Poucos deles conheciam as colônias das grandes potências na África e outras partes do mundo.

Mas naquela manhã o céu apareceu azul. Limpo. Não havia vento naquela porção de terra francesa. As sinfonias da guerra não tocaram naquele instante. Tudo estava calmo. Alguns soldados, com que coragem não se sabe, ergueram suas cabeças acima da linha das trincheiras. "Será que a guerra terminou?" Poderia ele retornar à Berlim, Paris, Londres?

Soldados Alemães e Britânicos confraternizam.

Era a manhã de Natal de 1914. Enquanto olhava, viu que apenas 15 ou 20 metros adiante alguém também erguia sua cabeça. Alguns começaram à sair da trincheira em direção à terra de ninguém. Não carregavam armas. Alguns de seus companheiros fizeram o mesmo e se encontraram com os inimigos à meio caminho. De um lado soldados alemães e de outro lado soldados britânicos. Há meia dúzia de horas esse gesto seria fatal. Mas hoje eles apertavam mãos, conversavam dentro dos limites das línguas mãe. Seus inimigos de véspera eram agora amigos.

Eles ainda jogaram partidas de futebol, um esporte amado em ambos os países. Mostraram fotos de suas famílias, improvisaram árvores de natal e trocaram presentes. Os oficiais estavam zangados pela trégua. Queriam prosseguir com a guerra. No dia seguinte, voltaram as velhas sinfonias. É bem provável que muitos daqueles homens seriam alvejados pelos seus amigos do outro lado da trincheira. O conflito ceifaria muitas vidas. Milhões. Mas aqueles que presenciaram o silêncio dos canhões jamais esqueceriam aquela data memorável.

Soldado Alemão na trincheira aliada.

Soldados jogam uma partida de futebol.


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